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Vespa soror. Foto: Rushen/WikiCommons

Portugal atento à chegada de vespa asiática gigante às Astúrias

29.11.2024

Chama-se vespa-gigante-do-sul (Vespa soror) e é uma espécie invasora asiática, maior do que a vespa-asiática (Vespa velutina). Cientistas espanhóis alertaram este mês para a entrada desta espécie na Europa, mais concretamente nas Astúrias, a cerca de 300 quilómetros de Portugal. O ICNF diz já ter alertado a rede STOPVespa.

Nas últimas décadas, a globalização tem facilitado a introdução e distribuição de algumas espécies sociais de vespas em novas regiões e países. Segundo os autores de um artigo publicado a 9 de Novembro na revista científica Ecology and Evolution, isto deve-se, por exemplo, ao facto de as vespas rainhas fertilizadas passarem a parte do ano que lhes é meteorologicamente desfavorável escondidas em materiais ou contentores que os seres humanos depois transportam para outras regiões longe do lugar original destes insectos.

Outro ponto relevante para a introdução com sucesso destas vespas é o número reduzido de indivíduos necessários para que se possam estabelecer em novas áreas.

Todas as espécies do género Vespa são endémicas da Ásia, à excepção da vespa-europeia (Vespa crabro) e da Vespa orientalis, que existem na Europa e Norte de África. Na verdade, apenas a Vespa crabro era autóctone da Península Ibérica, mas na última década têm chegado outras espécies do mesmo género, como a Vespa velutina, a Vespa orientalis e a Vespa bicolor.

Agora chegou a vez de uma outra espécie, a vespa-gigante-do-sul (Vespa soror). Esta espécie, descrita em 1905, vive nas regiões quentes da Ásia, incluindo o Nordeste da Índia, Myanmar, Tailândia, Laos, Vietname e Sul da China.

Naquele artigo científico, os investigadores apresentam o primeiro registo europeu da vespa-gigante-do-sul, das Astúrias, no Norte de Espanha. Foram recolhidos quatro espécimes em Março de 2022 e em Outubro de 2023 em El Campo, Granda, Siero, nas Astúrias. Os espécimes foram apanhados numa armadilha para vespa-asiática.

Os primeiros registos de Vespa soror na Europa são confirmados por análises genéticas e morfológicas neste artigo científico.

A vespa-gigante-do-sul tem um padrão de cor que é comum a poucas espécies asiáticas do seu género e é totalmente único no contexto europeu. Ambos os sexos têm três cores: preto ou castanho escuro, castanho claro e amarelo. A cabeça, que é excepcionalmente grande, é quase toda amarela. Tanto as antenas como as patas são quase todos castanhos e as asas são amareladas.

Os padrões de cor mais comuns das seguintes espécies: Vespa velutina(A), Vespa orientalis (B), Vespa crabro (C), Vespa bicolor (D), Vespa soror (E), e rainha da espécie Dolichovespula media(F). Ilustrações adaptadas de Perrard et al. (2014).

Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a vespa-gigante-do-sul “é particularmente agressiva na defesa do ninho e na caça a outros insetos”. As obreiras podem pode atingir 35 mm. “Preda sobretudo insetos, desde abelhas a louva-deus, mas também lagartixas.”

“O ICNF já alertou a rede de interlocutores municipais da plataforma STOPVespa para a necessidade de deteção e reporte da ocorrência desta e de outras potenciais vespas invasoras: Vespa orientalis: de tamanho médio, um pouco maior do que a Vespa velutina mas mais pequena do que a nativa vespa-europeia Vespa crabro; Vespa bicolor: presente no sul de Espanha”, acrescentou numa nota.

“O INIAV, IP no caso de indivíduos suspeitos de pertencerem a estas novas espécies, irá disponibilizar o serviço de envio de possíveis exemplares para identificação, livre de custos no âmbito do Plano Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal”.

Segundo os autores do artigo, “a Vespa soror é um predador agressivo que preda invertebrados de vários tamanhos, incluindo borboletas, libélulas, louva-a-deus e gafanhotos, bem como outras vespas e até preda pequenos vertebrados como lagartixas”.

Além disso, salientam, “há registos de Vespa soror a atacar, em grupos, as colmeias da abelha do mel Apis cerana, resultando em colmeias destruídas e perdas consideráveis para os apicultores”. “Um risco semelhante pode existir nas Astúrias para colmeias de Apis mellifera, com impactos potencialmente maiores, se nos lembrarmos que a presença da Vespa velutina já está a causar graves perdas nas colónias locais de abelhas do mel”.

Os investigadores alertam que a vespa-gigante-do-sul pode ter complicações para a saúde humana, especialmente durante os meses de Setembro a Dezembro, quando as novas rainhas e as colónias se tornam grandes e muito defensivas. As picadas são muito dolorosas.

Os ninhos são feitos debaixo do solo, mistas vezes com a entrada escavada entre as raízes de grandes árvores. “Alguns ninhos estão muito perto da superfície, apenas a alguns centímetros, mas outros estão mais profundos com um ou mais túneis que podem ter 60 centímetros ou mais de comprimento entre o ninho e a entrada”.

Este registo eleva para quatro o número de espécies de Vespa introduzidas na Península Ibérica.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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