Foto: IGME

Âmbar encontrado em Espanha revela escaravelhos que se alimentavam das penas de dinossauros como o T-Rex

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Há 105 milhões de anos existia uma relação de simbiose entre os dois grupos, indicam os vestígios preservados em fragmentos de resina vegetal encontrados na região de Teruel, na província de Aragão.

Uma equipa internacional de investigadores analisou fragmentos de âmbar encontrados na localidade de San Just, em Teruel, na zona central de Espanha, onde encontraram exúvias de larvas de escaravelho entre a estrutura filamentosa das penas de um dinossauro, datadas de há cerca de 105 milhões de anos, no período Cretácico.

As exúvias são as cutículas do exoesqueleto das larvas de escaravelho e de outros artrópodes, incluindo insectos como as cigarras. À medida que crescem ou quando passam ao estado adulto, esses animais largam as exúvias, pois ao contrário da pele humana estas estruturas não crescem com eles. Neste caso, acabaram preservadas em âmbar.

Num estudo publicado a 17 de Abril pela revista científica PNAS, os cientistas concluem que a relação entre estas larvas de escaravelho e os dinossauros terá sido simbiótica, “provavelmente comensal ou mutualista” – ou seja, é provável que ambos os grupos saíssem a ganhar, ou pelo menos os escaravelhos.

Registos como este, que demonstram que há muitos milhões de anos já existiam relações directas entre artrópodes, como os escaravelhos, e animais vertebrados, são “extremamente escassos”, notam os investigadores. Até hoje, só foram descobertos outros dois registos fósseis que apontam na mesma direcção, nesses casos envolvendo parasitas. A equipa acredita que no caso agora estudado, as larvas alimentavam-se da queratina presente nas penas dos dinossauros.

Detalhe de fragmento de âmbar analisado pelos investigadores, no qual se observam ampliadas as penas de dinossauro e exúvias de larvas de escaravelho de há 105 milhões de anos. Foto: IGME

“São muito conhecidas algumas das relações simbióticas dos artrópodes com os vertebrados, por exemplo, as de parasitismo das carraças com diversos vertebrados”, afirma Enrique Peñalver, primeiro autor do estudo, citado numa nota de imprensa do Instituto Geológico e Mineiro de Espanha, onde trabalha como investigador. “Estes dois grupos coexistiram durante mais de 500 milhões de anos e crê-se que a forma como coexistiram ao longo do tempo deu forma crítica às suas histórias evolutivas.”

Os cientistas conseguiram relacionar as mudas das larvas de escaravelho com os actuais escaravelhos da família Dermestidae, que constituem “uma praga que destrói os produtos armazenados ou as colecções secas de museus (com exemplares naturalizados ou dissecados), já que se alimentam de materiais orgânicos difíceis de digerir por outros organismos”.

Por outro lado, acrescenta o investigador espanhol, estas espécies têm também “um papel chave na reciclagem de matéria orgânica no meio natural, uma vez que se encontram comummente em ninhos de aves e mamíferos, onde se acumulam nas penas, no pêlo ou nos restos da pele”.

A equipa acredita que as larvas de escaravelho cujas exúvias foram encontradas viviam nas penas acumuladas sobre ou perto de uma árvore produtora de resina – na qual teve origem o âmbar – provavelmente num ninho.

Dinossauros como o T-rex

Já as penas pertenceram a um dinossauro terópode, um grupo de dinossauros bípedes na maioria carnívoros, como o Tyrannosaurus rex. Embora não tenham conseguido identificar a espécie, os cientistas sabem que essas penas não pertenciam a aves modernas, uma vez que estas grupo só surgiram no registo fóssil cerca de 30 milhões de anos mais tarde.

“A investigação mostra que o mais provável é que o anfitrião terópode emplumado também beneficiasse da actividade das larvas de escaravelho que se alimentavam das suas penas desprendidas, supostamente nos ninhos, implicando uma certa limpeza dos mesmos”, concluiu Ricardo Pérez de la Fuente, investigador no Museu de História Natural de Oxford e co-autor do estudo.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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