Uma equipa internacional de cientistas publicou a primeira classificação taxonómica lineana do filo dos placozoários, animais minúsculos e sem órgãos que terão surgido há mais de 500 milhões de anos.
O estudo foi liderado pelo Museu Americano de História Natural (MAHN) e pelo St. Francis College, nos Estados Unidos, e pela Universidade de Medicina Veterinária de Hanover, na Alemanha. Os investigadores analisaram a composição genética destes animais invertebrados para os diferenciarem entre si, em vez de recorrerem às características físicas, como é mais tradicional na classificação taxonómica, explica um comunicado do MAHN.
“Os placozoários parecem-se com discos minúsculos que vão alterando as suas formas; basicamente, são as panquecas do mundo animal”, descreve Michael Tessler, um dos autores do artigo publicado agora pela revista científica Frontiers in Ecology and Evolution. “Para um taxonomista que esteja a olhar por um microscópio, mesmo um aparelho poderoso, quase não há características para comparar e diferenciar os placozoários. Ainda assim, apesar de a maioria parecerem exactamente a mesma coisa, sabemos que a nível genético há linhagens muito distintas.”
A maioria destes invertebrados vivem em águas tropicais e subtropicais e são do tamanho de um grão de areia, com estruturas semelhantes a cabelos que os ajudam a movimentar.
Foi em 1883 que a primeira espécie de placozoário, Trichoplax adhaerens, foi descrita. Todavia, só muitas décadas depois renasceu o interesse por estes animais, reunidos no filo Placozoa – em termos taxonómicos, filos são os grandes grupos em que se dividem os reinos, como o reino dos animais e o reino das plantas, por exemplo. Só nos últimos 20 anos é os cientistas perceberam que o filo dos placozoários se divide em múltiplas linhagens.
Para este estudo, os investigadores recorreram à morfologia molecular, registando as diferenças nas sequências do ADN e outras características moleculares para classificarem diferentes placozoários. Os resultados traduziram-se em novos acrescentos dentro do filo dos Placozoa: duas classes taxonómicas distintas, quatro ordens, três famílias, um novo género e uma nova espécie.
Os resultados obtidos apontam também para uma proximidade maior destes organismos muito simples com o grupo dos cnidários (medusas, corais e anémonas do mar) e com os bilaterianos, grupo de animais que têm um lado esquerdo e um lado direito, como os humanos e os insectos.
“Pessoalmente, colectei placozoários em seis continentes durante quase 10 anos e fiz trabalho de laboratório e de bioinformática nesses organismos, mas foram precisas várias décadas de esforço de um grande número de colegas para finalmente conseguirmos esta excitante primeira classificação deste filo críptico [composto por espécies morfologicamente iguais]”, congratulou-se Johannes Neumann, ligado também ao MAHN e outro dos autores do novo artigo. “É por isso que baptizámos a nova espécie agora descrita como Cladtertia collaboinventa, que significa ‘descoberta em colaboração’.”
Os investigadores sugerem que o método da morfologia molecular seja a partir de agora aplicado em trabalhos de revisão da classificação taxonómica de outros organismos muito semelhantes, como as bactérias, fungos, protistas e parasitas.