Mais de 30 ONGA e mais de 50 personalidades enviaram uma Carta Aberta ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que faça cumprir a lei e combata o “avanço inexorável” das árvores exóticas no único Parque Nacional do país, a Peneda-Gerês.
A carta, com data de 21 de Fevereiro e enviada ao ICNF e à Comissão de Cogestão do Parque Nacional da Peneda-Gerês, revela a preocupação de organizações como a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), da Quercus, da ZERO e da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) face ao futuro desta área protegida, que se estende por 69.596 hectares nos concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre.
Em causa está o avanço de espécies como a mimosa (Acacia dealbata) e a háquea-picante (Hakea sericea). “Estas espécies constituem atualmente uma grave ameaça à biodiversidade, plantas e animais autóctones, serviços dos ecossistemas, saúde humana e danos muito expressivos à economia”, escrevem os signatários da Carta Aberta.
Na verdade, o Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, aprovado em 2011, já estabelece a necessidade de intervenção nas manchas de espécies invasoras, com destaque para Acacia dealbata e Hakea sericea, identificando área específica para seu controlo e erradicação a ser objeto de pormenorização em Programa Operacional de Gestão, até à data inexistente.
Além disso, acrescentam na Carta Aberta, esse Plano de Ordenamento “estabelece também a área de intervenção específica para a Mata Nacional do Gerês com objetivos, entre outros, de conversão das áreas ocupadas por espécies não indígenas em carvalhais e de elaboração e certificação de respetivo Plano de Gestão Florestal, o qual deverá conter programa pormenorizado de controlo e combate às espécies invasoras, até à data também inexistente”.
Os signatários da Carta Aberta lamentam que apenas se cumpram “medidas aparentemente avulsas que, sendo bem-intencionadas, não apenas não cumprem os objetivos de controlo e erradicação a que se propõem, como inadvertidamente, tantas vezes contribuem para o avolumar do problema”.
Por isso, os signatários da Carta exigem “ações concretas e planeadas de monitorização, prevenção e combate de espécies exóticas e invasoras lenhosas no PNPG (Parque Nacional da Peneda-Gerês)”.
Pedem ainda um Programa Operacional de Gestão para a Área de intervenção específica de Manchas de Espécies Invasoras Lenhosas e um Plano de Gestão Florestal para a Mata Nacional do Gerês.
Outra das exigências é a “revisão do Plano de Ordenamento, com validade estipulada de 10 anos, a reconduzir em Programa Especial de Ordenamento do Território com respetivos planos de gestão de Zona Especial de Conservação e de controlo de propagação de espécies exóticas”.
A Peneda-Gerês, criada há mais de 50 anos, “é hoje, mais do que nunca, em tempos de alterações climáticas, uma relíquia de biodiversidade que urge valorizar através da preservação e recuperação de habitats únicos”, salientam.
A ameaça das exóticas na Peneda-Gerês não é tema novo. Já em Março de 2017, a Quercus lançava o alerta de que a Peneda-Gerês estava a perder a guerra contra as acácias. Na altura, estimou a organização que a mimosa já ocupava mil hectares da área protegida.