PUB

lobo ibérico
Foto: Joana Bourgard

ONGA condenam decisão do Parlamento Europeu que enfraquece protecção do lobo

08.05.2025

A Europa virou as costas ao lobo e à Ciência, criticaram hoje vários grupos conservacionistas, reagindo à aprovação pelo Parlamento Europeu da proposta da Comissão Europeia para enfraquecer a proteção do lobo ao abrigo da Diretiva Habitats da UE. 

Organizações como a WWF e a Birdlife International consideram, num comunicado conjunto, que estamos perante um ataque à natureza.

Hoje, o Parlamento Europeu aprovou – com 371 votos a favor, 162 contra e 37 abstenções – a proposta da Comissão Europeia para enfraquecer a protecção estrita do lobo (Canis lupus), no âmbito da Directiva europeia Habitats, passando de espécie estritamente protegida para apenas protegida. Esta votação segue-se à decisão anterior de reduzir a proteção da espécie ao abrigo da Convenção de Berna. 

“A decisão marca uma mudança de rumo do novo mandato da União Europeia em relação a uma política baseada em factos científicos”, lamentam no comunicado organizações como a WWF, a BirdLife Europe, a Client Earth e o European Environmental Bureau (EEB).

Os conservacionistas receiam que esta tendência preocupante possa estender-se além do lobo a outras espécies. “Esta súbita mudança da União Europeia em relação ao lobo poderá ser apenas o primeiro acto” numa nova abordagem às leis europeias que protegem a natureza.

“Enfraquecer a proteção do lobo é uma decisão (…) que ignora a Ciência, alimenta a divisão e põe em risco um dos maiores sucessos de conservação da Europa”, comenta a coligação de ONGA.

“Numa altura em que devemos proteger melhor a natureza – o nosso melhor aliado contra as crises climática, da biodiversidade e da poluição – alguns decisores políticos estão a gastar tempo e energia em guerras contra as nossas frágeis espécies e ecossistemas.”

As ONGA lembram que os “líderes europeus devem cumprir o seu dever de defender publicamente a natureza e não a sacrificar em nome de ganhos políticos”.

De um ponto de vista conservacionista, “a decisão vai reverter décadas de progresso”, criticam. “Enquanto que a proteção estrita, no âmbito da Directiva Habitats, permitiu às populações de lobo recuperarem, a sua condição continua a ser frágil na maior parte da Europa.”

Agora, os Estados Membros passam a ter maior flexibilidade na “gestão” das populações de lobo, incluindo maiores quotas de abate.

Por isso, a coligação apela aos Estados Membros para manterem o lobo estritamente protegido no âmbito das suas legislações nacionais.

Em Portugal, o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) está classificado pelo Livro Vermelho de 2023 como Em Perigo.

Censo do Lobo-Ibérico 2019/2021, cujos resultados foram divulgados em dezembro de 2024, mostra uma tendência de contração das áreas geográficas de distribuição da espécie que, no início do século xx, estava disseminada de norte a sul do país.

Hoje existem apenas quatro grandes núcleos populacionais de lobo: Peneda/Gerês, Alvão/Padrela, Bragança e Sul do Douro. Foram detetadas 58 alcateias (56 confirmadas, 2 prováveis). No censo anterior, realizado em 2002/2003, tinham sido detetadas 63 alcateias (51 confirmadas, 12 prováveis).

Estima-se que a população de lobos em Portugal ronde os 300 animais, o que corresponde ao valor médio da estimativa de 190 a 390 lobos.

Por isso, um despacho do Ministério do Ambiente de 30 de Janeiro deu ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) três meses para apresentar um novo programa de medidas para conservar o lobo-ibérico (o Programa Alcateia 2025-2035), uma vez que o Plano de Ação para a Conservação do Lobo em Portugal “não teve o sucesso esperado”.

Em reacção aos resultados do censo nacional do lobo-ibérico, a associação WWF Portugal disse estar profundamente preocupada com a deterioração do estado de conservação desta espécie emblemática em Portugal e pediu medidas urgentes ao Governo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss