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Nova espécie de lagarto-espinhoso para Angola

14.01.2016

Uma expedição de investigadores portugueses, norte-americanos, sul-africanos e angolanos descobriu para a Ciência uma nova espécie de lagarto-espinhoso em Angola, o lagarto-espinhoso-do-Kaokoveld (Cordylus namakuiyus).

 

O lagarto-espinhoso-do-Kaokoveld é um lagarto “bastante robusto, embora um pouco espalmado, e de aparência espinhosa”, contou à Wilder Luís Ceríaco, investigador Post-Doc na Academia das Ciências da Califórnia e curador associado de Herpetologia no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. “O lagarto mede aproximadamente um palmo, é de cor alaranjada e está coberto por uma armadura óssea com espinhos, mais aguçados na zona da cauda”, acrescentou o investigador que estudou a espécie. Estes espinhos são especialmente úteis para afastar potenciais inimigos.

O nome científico do lagarto, Cordylus namakuiyus, deriva do nome “Namakuiya” que quer dizer “espinhoso” em Herero (língua falada pelo povo Bantu, que vive na zona Sul de Angola e na Namíbia).

Esta espécie, até agora desconhecida, é endémica das planícies áridas do Sul de Angola e vive entre os 215 e os 509 metros de altitude.

 

Foto: DR

 

Perante o aproximar de perigos, o lagarto esconde-se entre as fissuras das rochas, primeiro com a cabeça, deixando a cauda espinhosa pronta para qualquer desafio. Este comportamento foi observado pela equipa de investigadores e técnicos do Instituto Nacional angolano de Biodiversidade e Áreas de Conservação (INBAC) durante uma expedição a Angola em 2013 para estudar a herpetofauna angolana. Durante a viagem, Luís Ceríaco e os seus colegas colectaram oito lagartos no deserto rochoso de Kaokoveld.

 

Foto: DR

 

Depois de um profundo trabalho de contagem de escamas, de medições e de análises genéticas concluiu-se que esta era uma espécie diferente de todos os outros lagartos-espinhosos conhecidos. A conclusão foi publicada num artigo da revista Zootaxa no início de Janeiro, segundo o qual, para já, a espécie só é conhecida para o Sul de Angola.

“As diferenças para os demais Cordylus são várias, como a coloração, numero de escamas e tamanho”, explica Luís Ceríaco. A espécie mais próxima é o lagarto-espinhoso-de-Machado (Cordylus machadoi), que também ocorre em Angola, mas a altitudes mais elevadas. A sua principal diferença “é a sua armadura osteodérmica completa (a do C. machadoi existe apenas nas zonas superiores do corpo) e o formato da suas escamas cefálicas, nomeadamente a interparietal que, na nova espécie, tem forma de uma fechadura, e no C. machadoi de uma flecha quadrangular”, notou o investigador.

“Os cientistas acreditam que esta adaptação têm a ver com a diferença de habitat em que ambas as espécies existem – enquanto o lagarto-espinhoso-do-Kaokoveld ocorre num ambiente mais árido e aberto, com menos zonas de refúgio, o habitat do lagarto-espinhoso-de-Machado, tem vegetação e rochas em abundância, que permite que o animal passe mais despercebido e precise de menor protecção”, segundo um comunicado do Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

O mistério destes lagartos começou, pelo menos, em 1925, ano em que a expedição de Verney ao Sudoeste de Angola recolheu 50 espécimes, hoje depositados no Museu Norte-Americano de História Natural. Desde sempre houve dúvidas quanto à espécie a que pertenciam. A equipa comparou agora estes espécimes aos lagartos recolhidos e chegou à conclusão de que estes pertenciam a uma espécie nova.

“Esta descoberta mostra o quão pouco se conhece sobre a biodiversidade de Angola”, escrevem os investigadores no artigo científico. Apesar da recolha herpetológica do século XIX e início do século XX, grandes partes de Angola nunca foram estudadas convenientemente, em especial as regiões inacessíveis do Centro e Sudeste. Além disso, “muitos dos espécimes colhidos nessas primeiras expedições perderam-se, por negligência ou calamidades”.

Para tentar colmatar lacunas no conhecimento, Luís Ceríaco participa com colegas angolanos e norte-americanos num projecto para o estudo da herpetofauna angolana.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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