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Zostera marina. Foto: Universidade de Aveiro

Lançado projecto para repovoar Ria de Aveiro com erva marinha ameaçada

19.10.2023

Ao longo de sete anos, um consórcio de investigadores, empresas e ONG vão cultivar e repovoar a Ria de Aveiro com Zostera marina, uma das três espécies de ervas marinhas que existem em Portugal e que está ameaçada.

O projeto LIFE SeagrassRIAwild começou a 18 e 19 de Outubro com uma reunião do consórcio que envolve centros de investigação portugueses, espanhóis e alemães, empresas e ONG, avançou esta semana a Universidade de Aveiro, em comunicado.

Com um investimento de 3,5 milhões de euros e a duração de sete anos, este projecto vai usar antigas marinhas, propriedade da Universidade de Aveiro, para cultivar Zostera marina importada de outros sistemas. Isto porque as pequenas manchas de Zostera marina descobertas recentemente num dos braços da Ria não permitem o repovoamento do sistema, explicou Pedro Coelho, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM).

A partir daí, estas ervas marinhas irão repovoar os canais da Ria de Aveiro. Esta acção de conservação “permitirá recuperar os serviços prestados ao ecossistema por esta espécie, nomeadamente providenciar abrigo para a fauna marinha, aumentar a biodiversidade, fixar os sedimentos e armazenar carbono azul”, explicou a Universidade.

Além disso, o projecto vai testar o potencial efeito da presença desta espécie na redução do assoreamento dos canais de navegação e consequentes trabalhos de dragagem, com evidentes impactos nos fundos e nos ambientes da Ria. Na verdade, os investigadores da Universidade de Aveiro acreditam que a erva marinha poderá prevenir dragagens e respetivas consequências negativas nos ambientes da Ria.

“Apesar de ser historicamente uma das espécies colhidas com o moliço, às carradas transportadas em barcos da Ria e usada para adubar os solos, a Zostera marina é hoje uma erva marinha ameaçada”, salientou a Universidade.

Actualmente estima-se que todos os anos o planeta perde 7% de área de ervas marinhas, segundo contas da ONU. Por isso, em Maio de 2022, este organismo adoptou o Dia Mundial das Ervas Marinhas para chamar a atenção para “a necessidade urgente de aumentar a consciencialização e facilitar acções para conservação deste tipo de vegetação”, indica a ONU.

Carmen B. de los Santos, investigadora no CCMAR – Centro de Ciências do Mar, ligado à Universidade do Algarve, explicou anteriormente à Wilder que “uma erva marinha é uma planta angiospérmica (ou seja, plantas com flores) especializada, que se adaptou à vida nas zonas marinhas costeiras. Formam prados densos em áreas rasas e protegidas, ao longo da costa”. 

A Zostera marina é uma das três espécies de ervas marinhas que existem em Portugal, juntamente com a Zostera noltei e a Cymodocea nodosa. A Z. marina encontra-se na Ria de Aveiro, lagoa de Óbidos, Estuário do Sado e na Ria Formosa.

As ervas marinhas estão ameaçadas, por exemplo, pelo desenvolvimento e construção costeiras, actividades de navegação pouco respeitosas com o meio natural, pela poluição, alteração do leito ou da margem dos estuários e pelas espécies invasoras.


Saiba mais sobre ervas marinhas aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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