Crânio de Machairodus aphanistus macho, encontrado nas jazidas de Cerro de los Batallones. Foto: PePeEfe/WikiCommons

Investigadores espanhóis descobrem porque morreram estes tigres-dentes-de-sabre há 9 milhões de anos

26.06.2024

Fósseis de tigres-dentes-de-sabre, da espécie Machairodus aphanistus, encontrados no Cerro de los Batallones, Espanha, foram analisados por uma equipa de investigadores para descobrir as causas da morte destes animais, super-predadores há cerca de 9 milhões de anos.

Uma infecção generalizada, uma septicemia, foi o motivo da morte de vários tigres-de-dente-de-sabre da espécie Machairodus aphanistus, cujos restos fósseis foram encontrados na jazida do Cerro de los Batallones, perto de Torrejón de Velasco (comunidade de Madrid).

Esta foi a conclusão a que chegou uma equipa que juntou investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC), da Universidade Complutense de Madrid (UCM) e da Universidade de Valladolid. Os investigadores estudaram os fósseis da espécie com patologias ósseas que ainda não tinham sido estudados.

Mandíbula patológica de Machairodus aphanistus de Batallones-3. Foto: MNCN

A investigação, publicada na revista Journal of Mammalian Evolution, explica como adoeceram e morreram alguns tigres-dentes-de-sabre e dá pistas sobre como seria a organização social e a ecologia destes grandes felinos.

“A amostra estudada inclui ossos do tornozelo e da pata, além de uma mandíbula com evidências de uma grave infecção que acabou por fragmentar o osso e causar a morte do animal por septicemia”, explicou Mauricio Antón, colaborador do MNCN, em comunicado.

“O interessante deste estudo é que permite inferir como seria a vida social deste grande carnívoro, algo que nos interessa uma vez que os felinos actuais mostram uma ampla variedade de interacções sociais que dependem de variáveis como o tipo de habitat, o tamanho das populações ou a presença humana”, acrescentou.

A investigadora Gema Siliceo sublinhou que “a presença de indivíduos com patologias tão graves sugere que se podiam alimentar das presas caçadas por outros indivíduos. Isto quer dizer que o Machairodus formava alcateias como os leões? Isso não o podemos saber e é pouco provável”. Ainda assim, acrescentou, “é possível que, nesta espécie, os machos formassem grupos de dois ou três indivíduos que defenderiam um grande território e que incluía os territórios mais pequenos de várias fêmeas”.

As amostras foram estudadas com imagens radiológicas, ferramenta considerada fundamental para o diagnóstico veterinário. Para as veterinárias da UCM, Rosa Ana García Fernández e Isabel García-Real, esta foi “uma experiência muito estimulante, poder examinar patologias tão pouco habituais em animais domésticos, já que estes têm sempre um controlo veterinário”.

“No caso concreto dos fósseis analisados, é possível que as lesões que detectámos afectassem a capacidade de caça destes indivíduos e, inclusivamente, a sua mobilidade, debilitando-os gradualmente, e contribuindo, muito provavelmente, a que ficassem presos nas cavidades que posteriormente formaram as jazidas de Batallones”, contou Manuel Salesa, paleontólogo do MNCN.

Isto porque aquelas jazidas são compostas por cavidades formadas no Mioceno tardio que funcionavam como armadilhas naturais para a fauna. Essas cavidades podiam conter água mesmo em períodos de seca grave e, atraídos pela água, animais entravam ou acabavam por cair ali dentro, mas não conseguiam sair. Por sua vez, as suas carcaças atraíam carnívoros que também acabavam presos.

“Seguramente foram atraídos pela presença de animais previamente presos nessas cavidades”, acrescentou Salesa. “Em qualquer caso, este trabalho mostra-nos o muito que ainda nos falta saber sobre as espécies do passado e os dados tão interessantes que podemos obter a partir de estudos como a análise das patologias que os afectaram.”

Crânio de Machairodus aphanistus macho, encontrado nas jazidas de Cerro de los Batallones. Foto: PePeEfe/WikiCommons

As armadilhas naturais do Mioceno superior das jazidas Batallones-1 e Batallones-3, formadas há 9,5 milhões de anos, proporcionaram milhares de fósseis de vertebrados, na sua maioria mamíferos carnívoros como hienas, ursos e felinos. Entre eles há duas espécies de tigres-dentes-de-sabre – Machairodus aphanistus e Promegantereon ogygia -, representados por centenas de fósseis.

O primeiro teria o tamanho de um tigre da Sibéria e era um super-predador das faunas da época, enquanto que o Promegantereon ogygia, do tamanho de um leopardo, provavelmente evitaria encontrar-se com um Machairodus aphanistus, ocupando zonas com boa cobertura arbórea.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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