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Investigadores de baleias, aves e vida selvagem em África ganham prémio de Ecologia

08.06.2022
Foto: Joana Bourgard

Joana Bernardino, Miriam Romagosa e Gonçalo Curveira Santos foram os galardoados com o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2022 – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, foi hoje revelado.

Foram investigadores das Universidades do Porto, dos Açores e de Lisboa os vencedores da 6ª edição dos prémios que pretendem “valorizar o trabalho desenvolvido por recém-doutorados ao longo do seu programa doutoral” na área da Ecologia.

Este seu esforço foi distinguido por um júri composto por sete personalidades na área da investigação científica em Ecologia e por um administrador da Fundação Amadeu Dias.

Joana Bernardino – investigadora no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto -, primeira classificada, realizou uma meta-análise de estudos a nível internacional para compreender a eficácia da sinalização dos cabos eléctricos de alta tensão para evitar a colisão e subsequente mortalidade de aves.

Com esta análise e a revisão de outros trabalhos realizados nos últimos 40 anos a nível mundial, sobre a biologia e ecologia das espécies, desenvolveu estudos experimentais com base em amostragens de campo e armadilhagens fotográficas. Esta abordagem permitiu-lhe compreender a dinâmica das espécies necrófagas responsáveis pelo desaparecimento dos cadáveres de aves que colidem com as linhas e clarificar que factores são responsáveis pelo enviesamento de dados sobre a mortalidade de aves em linhas eléctricas. “Os resultados desta investigação têm aplicação imediata nas práticas das empresas de transporte e distribuição de eletricidade e na selecção das melhores soluções para mitigar e monitorizar os impactes dos projectos de rede eléctrica na avifauna”, considera a SPECO, em comunicado enviado à Wilder.

Miriam Romagosa – investigadora no Okeanos (Instituto de Investigação em Ciências do Mar), da Universidade dos Açores-, segunda classificada, debruçou a sua investigação sobre as vocalizações de três espécies de baleias: a comum, azul e sardinheira.

Para isso estudou os padrões temporais e espaciais das vocalizações, assim como das suas funções, para compreender a biologia e ecologia destas espécies durante a migração, fase menos conhecida do seu ciclo de vida.

Através da análise de dados acústicos recolhidos nos Açores e em diferentes regiões do Atlântico Norte, este trabalho demonstrou a presença contínua das baleias comuns e azuis no arquipélago entre o Outono e a Primavera e revelou uma mudança sazonal no seu comportamento e na função do habitat dos Açores, com a produção de canções reprodutivas no Inverno e de vocalizações associadas à alimentação na Primavera.

Este estudo também determinou, pela primeira vez, os níveis do ruído produzido pelo tráfego marinho em relação ao comportamento vocal destas baleias, e sublinhou a necessidade de uma monitorização contínua dos níveis de ruído subaquático para avaliar os possíveis impactes das actividades humanas e apoiar o planeamento e implementação de acções de conservação dirigidas a este grupo de cetáceos.

Gonçalo Curveira Santos – investigador no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa -, terceiro classificado, explorou a resposta de carnívoros sul-africanos a modelos alternativos de conservação e gestão, em função das interacções entre grupos.

Para tal, foi usada uma combinação de abordagens quasi-experimentais, baseada na heterogeneidade espacial dos modelos de gestão de fauna, e métodos estatísticos de inferência multi-espécie, para abordar as estratégias de conservação de carnívoros e desenvolvimento de planos de gestão de predadores na região.

Ao longo deste trabalho, Gonçalo verificou a importância de áreas de proteção formal a longo prazo para a comunidade de carnívoros e os riscos que se cometem em praticar negócios lucrativos de exploração de vida selvagem como estratégia de conservação. Esta investigação sugere que os benefícios de uma abordagem descentralizada para a conservação da biodiversidade na África do Sul dependem de trajetórias, ainda desconhecidas, de recuperação de espécies e para o crescente apelo de uma visão ecológica holística para a conservação e gestão da vida selvagem.

Os três primeiros classificados irão receber o prémio e apresentar o seu trabalho no 21º Encontro Nacional de Ecologia que, este ano, irá decorrer de 4 a 9 de Julho na Universidade de Aveiro, integrado no 2º Congresso SIBECOL (Sociedade Ibérica de Ecologia). Os prémios, no valor de 3.000, 2.000 e 1.000 euros, são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de 2 anos com quotas pagas.

O prémio recebeu oito candidaturas elegíveis, de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Aveiro, Lisboa, Minho e Porto. 

O júri era composto por Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia); Ricardo Melo, professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador  do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais); Jorge Gonçalves, professor convidado da Universidade do Algarve, Investigador Sénior e Membro da Direcção do CCMAR (Centro de Ciências do Mar); Helena Freitas, professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional); Myriam Lopes, professora associada da Universidade de Aveiro, e vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos); Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid; e João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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