Juvenil de milhafre-real marcado. Foto: Iván Gutiérrez/Palombar

Há mais três milhafres-reais a ajudar a combater venenos ilegais em Portugal

19.06.2024

A equipa do projeto Sentinelas – Rede de Monitorização de Ameaças para a Fauna Silvestre da Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural marcou a 30 de Maio com dispositivos GPS/GSM três milhafres-reais juvenis, que se juntam agora às espécies sentinelas do projeto e permitem monitorizar diversos tipos de ameaças para a biodiversidade, como os venenos ilegais.

A 30 de maio foram marcados dois milhafre-reais juvenis da mesma ninhada em Miranda do Douro, e mais um indivíduo, também juvenil, em Brunhozinho, no concelho de Mogadouro.

No terreno estiveram técnicos e biólogos da Palombar e da Universidade de Oviedo (Espanha), parceira do projeto, para marcar as aves que, além dos dispositivos GPS/GSM, também receberam anilhas.

Os especialistas aproveitaram para recolher dados biométricos dos milhafres-reais e amostras biológicas para avaliar o estado das aves.

“Os técnicos e investigadores da Palombar e da Universidade de Oviedo irão agora monitorizar de forma continuada os milhafres-reais marcados, com o objetivo de detetar ameaças para a fauna selvagem e o ambiente, como envenenamento, colisão com infraestruturas humanas, abate a tiro, uso ilegal de laços, entre outras”, explica a Palombar em comunicado.

Desde o seu início em 2019, o projeto Sentinelas já marcou 22 grifos (Gyps fulvus) – 17 dos quais com anilhas e emissores GPS/GSM e cinco apenas com anilhas – e oito milhafres-reais (Milvus milvus), todos com emissores GPS/GSM (um dos dispositivos GPS foi cedido pelo projeto LIFE Eurokite, que tem um acordo de colaboração com a Palombar) e anilhas metálicas e coloridas em PVC, sendo que estas últimas foram gentilmente cedidas pelo Hawk Mountain Sanctuary, nos Estados Unidos.

Atualmente há sete grifos e cinco milhafres-reais com emissores GPS/GSM ativos.

A monitorização das aves marcadas é feita através de uma plataforma que permite ver os movimentos das aves. Todos os dias, os técnicos analisam o seu padrão de comportamento e os dados do dispositivo. “Desta forma, é possível ter indicações de locais potenciais de alimentação, quando estão em voo, onde dormem, se estão muito tempo parados, etc. Se for detetado algo de anormal, os técnicos vão ao campo fazer uma prospeção e verificar se o animal está em segurança e/ou se há alguma ameaça a registar.”

Nestes anos de actividade, o projecto já detectou várias ameaças para a biodiversidade e os ecossistemas, nomeadamente suspeitas de envenenamento e abate a tiro, colisão com linhas elétricas/eletrocussão e utilização ilegal de laços.

Até ao momento, já foram feitas, no âmbito deste projeto, 14 denúncias às autoridades competentes. Entre 2020 e 2023, foram feitas quase quatro denúncias por ano.

O projeto Sentinelas arrancou com financiamento do Fundo Ambiental mas atualmente é suportado pela Palombar e tem cofinanciamento da Viridia – Conservation in Action. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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