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Foto: Joana Bourgard

Glifosato: Bruxelas decide renovar autorização de herbicida por mais 10 anos

17.11.2023

O glifosato, o herbicida mais usado em Portugal e no mundo e acusado de causar cancro e danos nos insectos polinizadores, poderá ser utilizado por mais 10 anos, ainda que com determinadas condições e restrições, decidiu ontem a Comissão Europeia, numa votação em que os Estados membros voltaram a não chegar a acordo.

Numa votação realizada a 16 de Novembro, os Estados-Membros não alcançaram a maioria qualificada necessária para renovar ou rejeitar a aprovação do glifosato, herbicida de amplo espetro e dessecante de culturas agrícolas, usado para matar ervas daninhas.

Esta votação segue-se a uma anterior realizada a 13 de Outubro no Comité Permanente dos Vegetais, Animais e Alimentos para Consumo Humano e Animal, em que os Estados-Membros também não alcançaram a maioria necessária para renovar ou rejeitar a proposta.

“Na ausência da maioria necessária num dos sentidos, a Comissão é agora obrigada a adotar uma decisão antes de 15 de dezembro de 2023, data em que termina o atual período de aprovação, explica Bruxelas em comunicado. A Comissão “procederá à renovação da aprovação do glifosato por um período de dez anos, sob reserva de determinadas condições e restrições”.

Essas restrições incluem a proibição da utilização pré-colheita como dessecante e a necessidade de determinadas medidas para proteger organismos não visados.

Para tomar a sua decisão, Bruxelas baseou-se num parecer realizado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA) em Julho, segundo o qual o uso do glifosato não tem riscos para a saúde. Levou também em conta pareceres da Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) e dos Estados-Membros.

“Esta proposta de renovação do glifosato é um drama para a saúde humana, com um número crescente de vítimas que sofrem de cancro e deformações desde tenra idade, e também para outros organismos vivos. Numerosos estudos demonstraram o efeito devastador do glifosato na biodiversidade”, disse à Euronews a eurodeputada francesa Marie Toussaint, da bancada dos Verdes no Parlamento Europeu.

“A Europa tem uma escolha: ou envenena ou protege. E esta votação, esta abstenção dos Estados-membros – que tinham os meios para impedir esta proposta –  acaba por contribuir para a deterioração da saúde, para a devastação da natureza. Agora escondem-se por detrás da sua abstenção, alegando que se opuseram porque se abstiveram, para não passarem um cheque em branco à Comissão Europeia, o que é totalmente hipócrita”, acrescentou Marie Toussaint.

Os Estados-Membros são responsáveis pela autorização nacional de produtos fitofarmacêuticos que contenham glifosato e continuam a poder restringir a sua utilização a nível nacional e regional se o considerarem necessário com base nos resultados das avaliações dos riscos, tendo especialmente em conta a necessidade de proteger a biodiversidade.

Já em Novembro de 2017, quando a licença do glifosato expirava, a Comissão Europeia também não conseguiu chegar a acordo, não tendo conseguido a maioria necessária para renovar a licença a este químico. De início, Bruxelas recomendou a aprovação do glifosato por mais uma década. Mas, confrontada com um coro de protestos que alertavam para os perigos do químico para a saúde e para o Ambiente, a Comissão Europeia reduziu a sua proposta de 10 para cinco anos.

Agora, a história repete-se.

Além das suspeitas quanto aos efeitos que o glifosato tem sobre a saúde humana – está classificado desde 2015 pela Agência internacional para a Investigação sobre o Cancro (da Organização Mundial de Saúde), como provável carcinogéneo para o ser humano – este herbicida é fortemente criticado pelos ambientalistas, por considerar-se que reduz a biodiversidade ao atacar as plantas em geral. Dessa forma, contribui para o desaparecimento dos habitats de muitos insectos e de outras espécies.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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