canoa no rio tejo
Foto: Joana Bourgard/arquivo

Filipa, Carlos e Cátia são os vencedores dos prémios de Ecologia 2023

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Filipa Soares, Carlos Vila-Viçosa e Cátia Figueiredo foram os galardoados com o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2023 – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, foi ontem revelado.

Estes prémios, atribuídos desde 2017, pretendem “valorizar o trabalho desenvolvido por recém-doutorados ao longo do seu programa doutoral” na área da Ecologia, explicam os organizadores.

Na edição de 2023, o júri recebeu 13 candidaturas elegíveis, de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Aveiro, Coimbra, Fernando Pessoa, ISPA, Lisboa e Porto. Estas foram avaliadas tendo em conta “critérios como a inovação do conhecimento para a Ciência, o interesse e originalidade do trabalho e o currículo dos candidatos”.

O primeiro prémio foi atribuído a Filipa Soares , actualmente investigadora no “Centre d’Écologie et des Sciences de la Conservation”, Museu Nacional de História Natural de Paris, mas antes estudante de mestrado e doutoramento no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A investigadora explorou as implicações (taxonómicas e funcionais) das extinções e introduções de aves em 74 ilhas oceânicas, distribuídas por três oceanos (Atlântico, Pacífico e Índico). Estes ecossistemas são dos mais ameaçados pelo impacto do Homem, além das alterações climáticas a que estão sujeitos.

Para o seu trabalho, Filipa Soares recolheu a riqueza específica da avifauna, as características funcionais de cada espécie, listou as espécies nativas – extintas, existentes e introduzidas – e compilou as características biogeográficas e antropogénicas das respectivas ilhas, que potencialmente influenciam a diversidade de aves introduzidas.

“A inovação deste trabalho consistiu na utilização das características funcionais, para além das taxonómicas já utilizadas anteriormente por outros autores, para aumentar a compreensão dos impactos antropogénicos nas alterações espacio-temporais da diversidade taxonómica e funcional da avifauna. Com este trabalho é agora possível prever tendências futuras de evolução ecológica e propor ferramentas globais para a conservação eficaz de ecossistemas resilientes e funcionais”, comentam os organizadores dos Prémios.

Carlos Vila-Viçosa, investigador no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, ganhou o segundo prémio com o seu trabalho sobre a taxonomia e a ecologia das espécies de carvalhos nativas em Portugal.

Este investigador debruçou-se sobre um dos géneros mais diversos e importantes que dominam as florestas do Hemisfério Norte, os carvalhos (do género Quercus). Em particular, estudou as espécies de carvalhos caduco-marcescentes da Península Ibérica, a sua capacidade de hibridação, aumentando o conhecimento sobre a diversidade de espécies.

“A inovação deste trabalho holístico de ecologia abrangeu o estudo taxonómico, evolutivo, biogeográfico e molecular deste género o que permitiu desvendar a filogenia dos carvalhos e a dinâmica de distribuição das espécies, tanto no passado como no futuro”, salientam os organizadores.

“Os resultados evidenciaram a Península Ibérica como um hotspot para a diversidade do género, identificaram novas espécies de Quercus, permitiram melhorar o conhecimento sobre as respostas destas plantas arbóreas a mudanças nos regimes climáticos e a antecipar estratégias de conservação destas espécies e das suas florestas.”

O terceiro prémio foi atribuído a Cátia Figueiredo, investigadora no CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental) da Universidade do Porto, mas antes estudante de doutoramento no MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Cátia Figueiredo usou abordagens bioquímicas para investigar a bioacumulação, eliminação e interacção de elementos de terras raras (REE, do inglês rare earth elements) em vários grupos marinhos (esponjas, peixes, bivalves e algas).

“A disponibilidade deste tipo de elementos associados às alterações climáticas é um desafio ambiental com consequências ainda pouco conhecidas. Os resultados evidenciaram um potencial ecotoxicológico de REE nas espécies dos grupos estudados, com respostas específicas por espécie, por elemento e por dose, sugerindo que a acumulação de REE e as respostas ecotoxicológicas num futuro próximo é excepcionalmente complexo de compreender. Por outro lado, a acumulação de REE e os efeitos tóxicos podem ser exacerbados pelas mudanças climáticas, impondo consequências nocivas às espécies. Os dados desta tese podem, assim, ser basilares para o processo de tomada de decisões políticas sobre estas problemáticas emergentes.” 

Os três primeiros classificados irão apresentar o seu trabalho e receber o prémio no 22º Encontro Nacional de Ecologia que, este ano, irá decorrer de 23 a 25 de Novembro na Universidade do Algarve.

Os prémios – no valor de 3.000, 2.000 e 1.000 euros – são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de dois anos com quotas pagas.

O júri foi constituído por Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia), João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias, Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid, Jorge Gonçalves, professor convidado da Universidade do Algarve, Investigador Senior e Membro da Direcção do CCMAR (Centro de Ciências do Mar), Helena Freitas, professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional), Myriam Lopes, professora associada da Universidade de Aveiro, e vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos) e Ricardo Melo, professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador  do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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