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escaravelho visto de cima
Foto: Ignacio Ribera & Ana Sofia Reboleira

Este escaravelho é o Animal Cavernícola de 2021 em Portugal

03.05.2021

O escaravelho predador cavernícola aquático português (Iberoporus pluto), cuja descoberta numa gruta da Serra do Sicó foi anunciada em 2019, foi a espécie escolhida.

Esta iniciativa realiza-se desde 2009 com o objetivo de sensibilizar para a importância da vida animal das cavernas e para a sua protecção, indicou o cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, ligado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), numa nota de imprensa enviada à Wilder. Estão previstas várias acções para os próximos meses.

Entre os escaravelhos que vivem nas cavernas de Portugal, o escaravelho predador cavernícola aquático é a única espécie que evoluiu para viver em águas subterrâneas. Foi descrito em 2019 por Ana Sofia Reboleira, investigadora do cE3c, e por Ignacio Ribera, ligado ao Conselho Superior de Investigação Científica de Espanha.

Este escaravelho de corpo laranja pálido e sem olhos foi descoberto por Ana Sofia Reboleira numa gruta do concelho de Penela, na zona cársica do Sicó, único local onde é conhecido. Trata-se de uma espécie que respira ar e por isso precisa de vir à superfície da água a cada 30 a 60 minutos.

Aspecto da gruta
Gruta Soprador do Carvalho, onde foi encontrada a nova espécie. Foto: Ignacio Ribera & Ana Sofia Reboleira

“Os escaravelhos cavernícolas de Portugal são todos terrestres, o Iberoporus pluto é a única espécie que evoluiu e se especializou a viver em águas subterrâneas. Vive apenas na água subterrânea do rio Dueça, e é uma espécie que é só nossa, não existe em nenhuma outra parte do mundo”, explica Ana Sofia Reboleira, que é também professora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e especialista em fauna cavernícola.

Os estudos moleculares que se fizeram permitem estimar que este pequeno escaravelho de 2,8 milímetros terá colonizado as águas subterrâneas há cerca de 10 milhões de anos. “Este animal é uma verdadeira pérola da nossa biodiversidade nacional, que enfrenta graves problemas de conservação”, avisa a investigadora.
 
Esta é também uma das nove espécies de escaravelhos adaptados às cavernas em Portugal Continental, a que se juntam três espécies existentes na Madeira e oito nos Açores.
 
Este ano, os escaravelhos das cavernas – como este Iberoporus pluto – foram seleccionados por todo o mundo como o grupo-alvo da iniciativa Animal Internacional Cavernícola do Ano. Esta é uma acção que se assinala desde 2009, num esforço de alerta para a pouco conhecida diversidade animal em habitats subterrâneos.

O que é um escaravelho?

Os escaravelhos são o grupo de animais mais diversificado que existe, representando cerca de um quarto de toda a diversidade animal, num total de mais de 400.000 espécies diferentes. “São artrópodes (ordem Coleoptera), possuem um exoesqueleto rígido, seis patas e duas antenas, e desempenham um papel importante nos ecossistemas terrestres, contribuindo para o ciclo do carbono e para manter o equilíbrio ecológico da vida no nosso planeta”, explica o cE3c.

escaravelho visto de cima
Escaravelho da espécie Iberoporus plutus. Foto: Ignacio Ribera & Ana Sofia Reboleira


 
Desta vez, a iniciativa Animal Cavernícola do Ano está inserida nas celebrações do Ano Internacional das Grutas e Carso 2021, que é organizada pela União Internacional de Espeleologia.

Em Portugal, esta iniciativa está a ser promovida pelo cE3c, ligado à FCUL, e pela Universidade dos Açores. Tem como parceiros o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, o Agrupamento de Escolas Gil Eanes através do seu projeto de Clubes de Ciência Viva “Biodiversidade Subterrânea do Algarve”, e a Ordem dos Biólogos.

“É fundamental que a sociedade tenha conhecimento de que debaixo dos nossos pés estão 97% dos recursos totais de água subterrânea disponível para o consumo humano imediato, e são estas comunidades de organismos subterrâneos que purificam a água e garantem a integridade ecológica destas reservas estratégicas. Isto é fundamental para a sobrevivência dos humanos e dos ecossistemas”, sublinha Ana Sofia Reboleira. “Toda a contaminação que ocorre à superfície infiltra-se em profundidade e compromete integralmente o legado mais precioso que podemos deixar às gerações vindouras: as nossas reservas de água potável.”
 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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