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Foto: Paolo Rosa

Esta vespa-cuco é nova para a ciência. Foi descoberta em Portugal, no Algarve

01.03.2023

As vespas-cuco, que têm um comportamento reprodutor semelhante às aves do mesmo nome, são conhecidas por serem muito bonitas, com um aspecto colorido e brilhante.

Num artigo publicado na revista científica Biodiversity Data Journal, uma equipa internacional de investigadores descreve duas espécies de vespas-cuco novas para a ciência: Chrysis crossi, registada na região do Algarve, e Hedychridium calcarium, encontrada na Espanha oriental. Outras nove espécies de vespas do mesmo grupo, já observadas noutros países, foram também agora registadas pela primeira vez em Portugal. 

Nova vespa-cuco Chrysis crossi, à esq. um macho e à dir. uma fêmea. Foto: Maarten Jacobs
Vespa-cuco da espécie Stilbum westermanni, uma das novas espécies registadas em Portugal. Foto: Maarten Jacobs

O anúncio desta descoberta foi feito esta quarta-feira pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO), ligado à Universidade do Porto, uma das entidades que participou nesta descoberta.

As vespas-cuco pertencem à ordem Hymenoptera, a mesma das abelhas e abelhões, das vespas-do-papel e também das formigas. Dentro dessa ordem, estes insectos de tons metálicos e cores brilhantes estão agrupados na família Chrysididae, cujo nome tem precisamente origem na palavra “chrysis”, que significa “ouro”, numa referência ao aspecto interessante destes insetos.

Exemplar de fêmea da nova vespa-cuco Chrysis crossi , seleccionado para constituir o holótipo da espécie, recentemente encontrada no Algarve. Foto: Paolo Rosa

“São designadas de vespas-cuco porque têm um comportamento reprodutor semelhante aos cucos”, pois “as fêmeas colocam os ovos nos ninhos de outras espécies, neste caso de abelhas-solitárias ou vespas”, explica o CIBIO, que adianta que quando “as larvas das vespas-cuco eclodem, alimentam-se dos ovos ou das jovens larvas” das espécies que parasitaram. No entanto, apesar de serem parasitóides ou cleptoparasitas, “a sua presença não representa um problema para a conservação das abelhas e outras vespas que têm o papel de polinizadores”.

Espaço para novas descobertas em Portugal

No mundo, são conhecidas cerca de 2.800 espécies de vespas-cuco, incluindo cerca de 480 já registadas na Europa. Destas, em Portugal são conhecidas 130 espécies e quatro subespécies, “números que estarão provavelmente ainda longe do total existente, considerando o muito maior número de espécies conhecido em Espanha.” 

Para além da descoberta das novas vespas-cuco, este trabalho, inserido na iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative, permite agora adicionar 52 espécies, de 11 géneros diferentes à base de dados “Barcode of Life Data System (BOLD)”, contribuindo assim para o conhecimento dos códigos de barras de ADN de vespas-cuco (Hymenoptera, Chrysididae). Além disso, inclui ainda propostas de várias mudanças taxonómicas.

“Este trabalho representa o primeiro esforço na geração de códigos de barras de ADN para crisidídeos ibéricos, representando assim um passo importante na documentação da diversidade genética da fauna de vespas-cuco mediterrânicas”, refere Sónia Ferreira, investigadora no BIOPOLIS-CIBIO e co-autora do estudo. 

Vespa-cuco Hedychrum viridiaureum, uma das espécies cuja singularidade foi confirmada com recurso a comparação de códigos de barras de ADN. Foto: Maarten Jacobs

A investigadora destaca ainda a importância de uma adequada cobertura das bases de dados mundiais de códigos de barras de ADN para o desenvolvimento de sistemas de monitorização da biodiversidade: “O sucesso dos objetivos de projectos internacionais como o Biodiversity Genomics Europe (BGE), que visa a implementação de monitorização dos ecossistemas de forma padronizada à escala internacional, reside na possibilidade de aliar métodos tradicionais de monitorização da biodiversidade com as mais recentes técnicas moleculares.”

Paolo Rosa, investigador do laboratório de Zoologia da Universidade de Mons, especialista neste grupo de insectos e primeiro autor da publicação, destaca por sua vez o papel de “sentinelas” que estes insetos desempenham: “O estudo das vespas-cuco é importante para entender o estado de saúde do meio ambiente, por estarem no topo da cadeia alimentar, são sensíveis a todas as alterações que ocorrem no ambiente e na diversidade de espécies solitárias de abelhas e vespas que parasitam. Populações abundantes de vespa-cuco indicam um meio ambiente bem preservado”.

Vespas coloridas e bonitas

As vespas-cuco são conhecidas por terem cores vivas e tons metálicos. “Podem ser verdes, azuis, vermelhas ou rosa, ou, em algumas espécies de todas estas cores ao mesmo tempo”, descreve a equipa do CIBIO, que ressalva que a ecologia destes insectos “é bem mais complexa” do que na maioria dos outros invertebrados do mesmo grupo

Na Europa, a diversidade de vespas-cuco é maior na região mediterrânica, pois poucas espécies são encontradas no Norte e nas Ilhas Britânicas. Estes insetos são mais comuns nos países do sul da Europa, uma vez que a maioria das espécies são heliófilas e termófilas, preferindo habitats ensolarados e quentes. Por outro lado, é também nestes países que encontram um maior número de espécies de abelhas e vespas hospedeiras para completarem o seu ciclo de vida.

Muitas espécies de vespas-cuco são raras e algumas estão em risco de extinção na Europa, sublinha também a instituição. “A destruição e degradação de habitat, a homogeneização da paisagem e a remoção de madeira morta, como a eliminação de antigas construções abandonadas em madeira pode limitar a sua diversidade.”


Saiba mais.

Conheça esta vespa-cuco e também esta, identificadas no consultório Que Espécie é Esta?, na Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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