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Esta ave escolhe fazer o ninho onde ouvir outras aves da mesma espécie

31.03.2021

A torda-miúda-marmorada (Brachyramphus marmoratus), ave marinha ameaçada nos Estados Unidos, é muito influenciada pelo som de outras aves da sua espécie na altura de escolher o local para fazer o seu ninho, descobriram investigadores norte-americanos.

Uma equipa da Universidade Estatal do Oregon (OSU) considera que esta descoberta é importante porque as populações desta ave ameaçada e difícil de ver estão em declínio. A recuperação da espécie pode ser posta em causa por existirem poucas aves que deem informação umas às outras sobre onde nidificar.

A descoberta foi publicada na revista Ornithology, da American Ornithologists Union, a 10 de Março.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores emitiram chamamentos gravados de tordas-miúdas-marmoradas na floresta.

Torda-miúda-marmorada. Foto: Brett Lovelace/OSU

“As hipóteses de as tordas considerarem fazer o ninho em sítios onde emitimos chamamentos de outras tordas foram muitas vezes superiores do que em sítios onde não o fizemos”, explicou, em comunicado, Jonathon Valente, principal autor do estudo e investigador no projecto dedicado à espécie naquela universidade.

As tordas-miúdas-marmoradas são próximas dos papagaios-do-mar e dos airos. Mas, ao contrário destas espécies, as tordas nidificam e cuidam das suas crias em terra firme, em florestas maduras e antigas.

“Não existem muitas espécies assim”, comentou Jim Rivers, co-autor do estudo e investigador na OSU. “Na verdade, não há mais nenhuma ave que se alimenta no oceano e percorre distâncias tão grandes terra a dentro para os seus locais de nidificação. Este comportamento é mesmo pouco usual e torna esta espécie especialmente desafiante para estudar.”

Em 2016, Valente, Rivers e três colaboradores da OSU simularam a presença de tordas-miúdas-marmoradas em 14 sítios com potencial de nidificação, emitindo chamamentos de outras tordas durante a época de reprodução. Depois gravaram os chamamentos das tordas na natureza e compararam com 14 sítios de controlo onde não foi emitido qualquer chamamento gravado.

No ano em que decorreu esta experiência, os chamamentos simulados aumentaram as hipóteses dos chamamentos das tordas na natureza até 15 vezes. Os investigadores acreditam que estas seriam aves juvenis a prospectar território para fazer os seus ninhos. 

Para surpresa dos investigadores, estes juvenis parecem ter-se lembrado das localizações das áreas desta experiência na época reprodutora seguinte, quase um ano depois de os chamamentos gravados terem parado. As hipóteses de um local ser ocupado durante a época de reprodução de 2017 foram 10 vezes superiores nos locais onde ocorreu a experiência em relação aos locais de controlo.

“Isto significa que seria uma boa ideia para quem faz conservação considerar emitir vocalizações para encorajar estas tordas a nidificar em habitats de elevada qualidade mas ainda não utilizados”, opiniou Matt Betts, investigador da OSU que também participou no estudo. “E porque as tordas são atraídas por outras tordas, proteger áreas adjacentes a locais de nidificação conhecidos também pode ser outra abordagem de conservação eficaz.”

Torda-miúda-marmorada. Foto: Kim Nelson e Dan Cushing

A torda-miúda-marmorada passa a maior parte do seu tempo em zonas costeiras a alimentar-se de krill, outros invertebrados e pequenos peixes, como anchovas. Estas aves só têm uma cria por ano e esta exige muito peixe para crescer saudável.

Estas aves elusivas põem o seu único ovo numa árvore, num ramo alto. Têm de estar atentas a predadores como os corvos, gralhas e pegas.

É uma espécie listada como ameaçada em Washington, Oregon e na Califórnia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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