Lobo (Canis lupus). Foto: Marcel Langthim/Pixabay

Escócia: Reintroduzir o lobo nas Highlands poderá recuperar os bosques nativos

18.02.2025

Investigadores concluíram que o regresso deste carnívoro iria controlar os números de veados que se alimentam de árvores jovens, facilitando assim a regeneração das florestas.

O impacto positivo para os bosques nativos das Highlands escocesas, devido à reintrodução do lobo (Canis lupus) nesta região montanhosa, teria ainda como resultado o armazenamento adicional de um milhão de toneladas de dióxido de carbono por ano, devido ao crescimento das florestas, concluiu um estudo publicado esta semana na revista científica Ecological Solutions and Evidence.

De acordo com a Universidade de Leeds (norte de Inglaterra), que liderou o estudo, trata-se da primeira investigação científica que avalia os impactos da eventual reintrodução de lobos na Escócia tanto para as florestas nativas como para a absorção de dióxido .

Os cientistas estimam que, a avançar um plano para o regresso do lobo a quatro áreas diferentes das Highlands, irão aí estabelecer-se cerca de 167 desses predadores de topo – um número suficiente para levar à redução do número de veados numa quantidade que permitiria às árvores regenerarem-se naturalmente. Cada lobo, por sua vez, representaria uma capacidade adicional de captura de carbono de 6080 toneladas por ano, devido à maior taxa de sobrevivência das árvores nativas.

“Precisamos de olhar para o papel potencial de processos naturais, como a reintrodução de espécies, para recuperar os nossos ecossistemas degradados. Isso, por sua vez, pode trazer-nos co-benefícios para o clima e para a recuperação da natureza”, sublinhou o primeiro autor do estudo, Dominick Spracklen, investigador da universidade britânica.

Desaparecidos no século XVIII

Os lobos terão sido erradicados da Escócia há cerca de 250 anos, em meados do século XVIII, o que fez com que os veados deixassem de ter um predador natural. Como resultado, a população destes herbívoros cresceu de forma significativa no último século, com as estimativas mais recentes a apontarem para 400.000. Um dos resultados tem sido o impacto negativo para as florestas nativas escocesas, argumentam os investigadores, uma vez que estas cobrem apenas quatro por cento do país.

Na Europa Ocidental, com algumas exceções como é o caso português, o lobo tem vindo a expandir-se e ocupa hoje 67 por cento da área de distribuição histórica, ultrapassando mais de 12.000 indivíduos. A eventual reintrodução da espécie no Reino Unido tem sido discutida, mas os cientistas reconhecem que é um debate controverso, em especial para os criadores de gado e caçadores de veados.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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