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um pisco de peito ruivo no ramo de uma árvore
Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

Entrevista: “A maioria das crianças tem uma vivência urbana e poucas oportunidades de contactar com a natureza”

14.11.2024

A Wilder falou com Gonçalo Elias e José Frade, autores do livro “O meu Guia de Aves”, publicado recentemente. Saiba como foi feito o livro, o que oferece e qual a sua importância.

A missão desta obra é ajudar crianças (e pais) a descobrir as aves selvagens que ocorrem em Portugal Continental. E porque as espécies que ocorrem no nosso país são cerca de 300, o que poderia ser demasiado para quem está a começar, Gonçalo e José decidiram escolher cerca de metade.

Este é o terceiro livro desta dupla de autores, ornitólogos naturalistas que se dedicam às aves.

WILDER: Como surgiu a ideia deste livro? E porquê as crianças?

Gonçalo Elias: Depois de termos publicado dois livros dirigidos a adultos (o “Guia Fotográfico” e o “Como observar e fotografar”) fizemos alguma reflexão conjunta sobre o que faria sentido escrever a seguir. Reparámos que noutros países existem inúmeros livros dirigidos a crianças, mas em Portugal não havia, até agora, um guia de identificação para os leitores mais jovens. Existiam algumas obras traduzidas, mas essas descrevem, em geral, outras geografias e não têm especificamente a ver com a realidade nacional.

W: Em que é diferente dos outros livros que já escreveu sobre as aves portuguesas?

Gonçalo Elias: O guia difere dos anteriores em dois aspectos essenciais: o grafismo e os conteúdos. O grafismo foi pensado para tornar o livro visualmente apelativo, por isso tem uma forte componente de cor, assim como pequenos ícones para destacar os aspectos sobre cada espécie e setas para apontar, nas fotos, as características mais relevantes para a identificação. Quanto ao conteúdo, o livro traz duas novidades: uma caixa que explica o significado do nome científico e outra caixa que contém uma curiosidade acerca da espécie – estas duas caixas, que são uma inovação em guias deste tipo, acabam por constituir uma mais-valia e uma oportunidade de aprender factos interessantes acerca das nossas aves selvagens.

W: Teve, ou não, algum cuidado especial na escolha das fotografias para este livro, por serem para crianças?

José Frade: Não, o cuidado que tive foi, principalmente, em ter fotos que mostrassem as características essenciais para uma melhor identificação da espécie.

W: Qual o tipo de leitores alvo?

Gonçalo Elias: Este guia foi pensado para um público mais jovem, em especial na faixa etária dos 8 aos 13 anos. Assim, a linguagem usada foi escolhida de modo a ser facilmente compreendida por estes leitores mais jovens. Contudo, parece-nos que o livro também poderá interessar aos adultos.

W: Qual é o objectivo do livro?

Gonçalo Elias: O livro tem, digamos, um duplo objectivo. Por um lado, dar a conhecer aos mais jovens as aves selvagens que existem no nosso território e, com isto, sensibilizá-los para os nossos valores naturais e para a importância de os conservar. Por outro lado, criar uma oportunidade de aprendizagem de novos factos acerca destas espécies, o que é feito sobretudo através daquelas duas caixas de texto que referi.

W: Qual a importância da fotografia neste livro?

José Frade: A imagem é muito importante para mostrar o que pretendemos. Nem todos têm a hipótese de observar muitas das aves no seu ambiente natural e a fotografia consegue dar uma percepção mais real.

W: Como escolheram as 124 espécies incluídas no livro?

Gonçalo Elias: Quando estávamos a planear o conteúdo, acertámos com a editora qual era o número de páginas e decidimos que haveria 124 espécies com ficha detalhada. Então fiz uma lista de 124 espécies, tentando privilegiar as mais comuns e mais fáceis de observar e também algumas espécies emblemáticas. O José fez o mesmo. A seguir comparámos as nossas duas listas. Cerca de 90% das espécies eram coincidentes e não houve discussão. Para as restantes em que havia diferenças, falámos entre nós para ver as que fazia mais sentido incluir, dentro dos critérios já referidos e procurando ter uma boa representação das várias famílias.

W: Como comenta o conhecimento que as crianças têm hoje sobre as aves selvagens?

Gonçalo Elias: De uma forma geral, parece-me que é muito baixo. Isto acontece porque a maioria das crianças tem uma vivência essencialmente urbana e não tem muitas oportunidades de contactar com a natureza, ou seja, com o “campo”. Portanto, embora em teoria saibam que há animais e plantas de diferentes espécies, na prática não as conhecem e nunca as viram ao vivo.


O MEU GUIA DE AVES

Por Gonçalo Elias e José Frade

Editora: Booksmile

Data de publicação: Setembro de 2024

Número de páginas: 160

Preço: 15,95€

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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