Uma espécie rara de caracol da Polinésia Francesa, o Partula tohiveana, que estava declarado Extinto na Natureza foi alvo de 40 anos de um projecto de conservação. Hoje desceu um nível de ameaça e está Criticamente Em Perigo.
O caracol Partula tohiveana, que desapareceu na natureza por causa da introdução de outras espécies de caracóis carnívoros predadores, foi agora reclassificado na Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), passando de Extinto na Natureza para Criticamente Em Perigo.
Isto é o resultado de décadas de trabalhos de conservação, coordenados pela Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, sigla em Inglês) e dos seus parceiros. Parte deste esforço foi concretizado através de um programa de reprodução na Polinésia Francesa.
Este anúncio é a oficialização de uma descoberta marcante feita no ano passado, quando foram encontrados indivíduos adultos de Partula tohiveana, nascidos na natureza, em Moorea, confirmando que a espécie não apenas conseguia sobreviver mas também reproduzir-se com sucesso no seu habitat natural.
A equipa responsável por este programa de conservação, o mais longo da ZSL, fez reintroduções anuais de caracóis, em colaboração com o Governo da Polinésia Francesa, Universidade de Cambridge e conservacionistas da Sociedade Zoológica de Bristol, Sociedade Zoológica de Detroit e muitas outras entidades.
O programa de reprodução em cativeiro destes caracóis começou nos anos 1980, depois de as suas populações em estado selvagem terem sido dizimadas pela introdução do caracol Euglandina rosea, espécie exótica invasora naquela região e predador do caracol Partula tohiveana.
Os caracóis foram cuidadosamente reproduzidos em cativeiro no Zoológico de Londres e em outros jardins zoológicos um pouco por todo o mundo, antes de grandes quantidades de caracóis serem marcados com tinta reflectora de raios UV e libertados de volta aos seus habitats na floresta da Polinésia Francesa.
“Este é um momento histórico para a Partula tohiveana e para as décadas de trabalho internacional de conservação”, comentou, em comunicado, Paul Pearce-Kelly, curador sénior de Invertebrados do Zoo de Londres e coordenador do programa de conservação dirigido a esta espécie. “Assistir a uma espécie regressar do limiar da extinção, depois de anos de esforços colaborativos é exactamente a razão pela qual fazemos o que fazemos”, acrescentou.
Na opinião deste especialista, a conservação que se faz nos jardins zoológicos vai muito além de manter populações de garantia. “Esta notícia inspiradora mostra o nosso verdadeiro impacto e como estamos a trazer de volta algumas das espécies mais vulneráveis.”
“A resiliência destes caracóis mostra aquilo que podemos alcançar quando conservacionistas, Governos e comunidades locais trabalham juntos para reverter a perda da biodiversidade”, comentou ainda.
Os caracóis do género Partula representam um género de caracóis terrestres tropicais, especialmente adaptados a viver em diferentes vales vulcânicos na Polinésia Francesa e outras ilhas do Pacífico. O género tem hoje 104 espécies descritas para a Ciência, das quais 15 espécies e sub-espécies são alvo de programas de reprodução em cativeiro.
Outrora abundantes naquelas ilhas, muitas espécies deste género desapareceram nos anos 1980 e início dos anos 1990 depois de ter sido introduzido um caracol carnívoro para controlar uma outra espécie de caracol exótica, o caracol Lissachatina fulica.