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Dois cágados mediterrâneos devolvidos à natureza depois de quase um ano de recuperação

25.05.2023

O Titã e a Theia – dois cágados-mediterrânicos (Mauremys leprosa), uma das duas espécies selvagens de cágados de Portugal – passaram quase um ano em reabilitação no Zoomarine e foram devolvidos à natureza a 24 de Maio na barragem do Arade, em Silves.

A devolução à natureza aconteceu às 10h00 nas margens da barragem do Arade, pelas mãos dos técnicos do Porto d’Abrigo do Zoomarine, parque aquático temático na Guia, em Albufeira, e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Foto: Zoomarine

O Titã foi internado a 19 de Junho de 2022, depois de ter sido encontrado prostrado. “O diagnóstico revelou um grave distúrbio eletrolítico, anemia e hipoglicémia; adicionalmente, o seu trato digestivo estava fortemente parasitado e padecia de anorexia”, explicou o Zoomarine em comunicado enviado à Wilder.

“Após meses de fluidoterapia, entubações oro-gástricas, medicação e reabilitação clínica e comportamental, está finalmente apto para regressar ao seu habitat natural”.

Foto: Zoomarine

Terminada a sua reabilitação, o seu peso passou de 877 para 946 gramas. 

A Theia deu entrada no centro de reabilitação pouco depois, a 21 de Agosto de 2022. “Pesava, na altura, 861 gramas e revelou ter anemia e distúrbios eletrolíticos, uma infecção bacteriológica e dificuldades de flutuabilidade.”

“Foi feito um protocolo com um antibiótico apropriado e terminou esta série de tratamentos com probióticos para normalizar a flora intestinal. Após a regularização do seu apetite e comportamento, com a devida confirmação através de análise sanguínea, está finalmente apta para regressar à natureza.”

Hoje, totalmente recuperada, esta fêmea adulta já pesa 909 gramas.   

Durante a sua permanência sob cuidados humanos, ambos os cágados foram alimentados com várias espécies de peixe, carnes brancas, hortaliças e, ocasionalmente, minhocas.

Foto: Zoomarine

“Agora, além de muito bem alimentados e desparasitados, foram marcados com um microchip que permitirá, no futuro, que ambos os espécimes possam ser identificados (caso voltem a ser avistados ou recolhidos), por reabilitadores e investigadores.” 

O Porto d’Abrigo do Zoomarine, fundado em Novembro de 2002, foi o primeiro centro de reabilitação criado em Portugal para espécimes aquáticos e integra a rede ABRIGOS, gerida pelo ICNF (e cofundada pelo Zoomarine, em 1999), com vista a dar apoio a espécimes arrojados na costa portuguesa (golfinhos, focas, tartarugas marinhas, entre outros) ou confiscados pelas autoridades portuguesas.

Foto: Zoomarine

O cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) é uma das duas espécies nativas de cágados em Portugal, a par do cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis). Estes cágados estão hoje ameaçados de extinção devido a várias ameaças, incluindo a concorrência de espécies invasoras que são mais agressivas, como a tartaruga-da-Flórida. 

São animais fáceis de identificar devido às manchas alaranjadas que têm no corpo e por vezes também por causa do líquido fétido que libertam quando se sentem ameaçados. Este líquido deu aliás origem ao seu nome científico, leprosa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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