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Captado raro encontro entre lince e lobo selvagens na Europa

13.04.2016

O excepcional encontro entre um lobo-cinzento (Canis lupus), espécie muito ameaçada, e uma família de linces-eurasiáticos (Lynx lynx) numa floresta europeia foi captado num vídeo divulgado ontem pela WWF. A organização vê nas imagens a prova de que a vida selvagem está a voltar à Europa.

 

O vídeo tem 39 segundos e foi captado pelo biólogo e fotógrafo Zenek Wojtas. As imagens mostram o encontro entre os dois predadores nas florestas cobertas de neve da região montanhosa dos Cárpatos, na Polónia.

“Quando o lobo se aproximou lentamente da fêmea de lince, ela eriçou o pelo para proteger as suas crias, como todas as mães fazem. Não foi uma luta, o lobo só queria brincar”, disse o biólogo num comunicado da WWF europeia.

As populações de lince-euroasiático e de lobo-cinzento quase desapareceram em algumas regiões da Europa. Hoje estima-se que existam 1.000 lobos e 200 linces na Polónia, segundo a WWF.

“Observar linces e lobos selvagens no seu habitat natural é extremamente difícil e raro”, disse Wojtas. “Passei meses com temperaturas geladas para conseguir ver os animais na natureza. Este encontro é único e dá-nos uma visão da harmonia que existe na natureza, onde os predadores podem viver no mesmo habitat sem fazerem mal uns aos outros.

Os dois predadores estiveram quase extintos na Europa, uma situação que começou a mudar graças a vários projectos de conservação. Mas continuam em perigo. “A recuperação da vida selvagem na Europa, testemunhada nestas imagens é um sinal claro de um ecossistema saudável e equilibrado que deve ser mais protegido”, diz a WWF em comunicado.

Andreas Baumuller, responsável pelo Departamento das Políticas Europeias da WWF, salientou que tanto o lobo como o lince, “animais esplêndidos e com uma força incrível”, são “espécies fundamentais para manter o nosso ecossistema natural em equilíbrio. Não podemos correr o risco de os perder outra vez”.

O responsável deixou um desafio. “Os nossos líderes têm a responsabilidade de garantir que a vida selvagem da Europa tenha o espaço e a protecção de que precisa para viver em segurança”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre estes dois predadores.

Lobo-cinzento (Canis lupus): originalmente, era o mamífero com maior distribuição no mundo, segundo a União Internacional de Conservação da Natureza. Ainda assim, extinguiu-se em grande parte da Europa Ocidental, México e Estados Unidos. Hoje, a sua área de distribuição foi reduzida em um terço por causa da perseguição devido aos ataques ao gado. Apesar de ainda enfrentar várias ameaças, as populações estão estáveis a nível global. Por isso, está classificado com estatuto de Pouco Preocupante. Mas a nível europeu, a classificação é diferente, havendo mesmo regiões em que o seu estatuto é de espécie Ameaçada.

Lince-eurasiático (Lynx lynx): esta é uma espécie classificada como Pouco Preocupante, por causa das suas populações estáveis no Norte da Europa e na Ásia. Mas no resto da Europa, tem estatuto de Criticamente em Perigo ou Em Perigo, por causa das populações isoladas. Este animal tem sido dizimado em grande parte da Europa Ocidental e Central, à excepção da região montanhosa dos Cárpatos. Recentemente têm sido libertados animais para tentar trazer de volta este predador, nomeadamente na Suíça, Eslovénia, Itália, República Checa, Áustria, Alemanha e França. Esta espécie não ocorre na Península Ibérica, onde está presente a sub-espécie lince-ibérico (Lynx pardinus).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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