O Governo dos Camarões deu um passo atrás na sua decisão de permitir a desflorestação industrial de uma das florestas tropicais menos exploradas do país, onde vivem gorilas, chimpanzés e aves raras.
O mais recente decreto governamental, de 11 de Agosto, substitui um outro assinado a 22 de Julho que permitia a extração de madeira na floresta de Ebo, no Sul do país, em 68.385 hectares. Isto depois de protestos de organizações de conservação da natureza e comunidades locais.
O abate de árvores teria destruído habitat essencial para numerosas espécies de primatas em perigo de extinção, nomeadamente gorilas e chimpanzés, segundo a Global Wildlife Conservation.
“Este é um exemplo prático da forma de acelerar a extinção de espécies em perigo crítico de extinção, como os gorilas”, comentou então Bethan Morgan, responsável pelo programa África Central no San Diego Zoo Global, que trabalha na conservação dos grandes símios da floresta de Ebo.
A floresta de Ebo, com 1.500 quilómetros quadrados, é gerida por mais de 40 comunidades locais que vivem ao seu redor e que dela dependem para a alimentação e medicamentos tradicionais. O decreto governamental de 22 de Julho retirava a gestão da floresta das comunidades para a entregar a grupos de exploração madeireira industrial.
Nesta terça-feira, o gabinete do primeiro-ministro Joseph Ngute disse em comunicado que tinha sido instruído pelo Presidente Paul Biya para reverter o decreto de 22 de Julho.
A Greenpeace África já saudou a suspensão dos planos para o abate de árvores em Ebo pelo Governo dos Camarões, algo que tinha considerado “um massacre”. Tanto mais que, “proteger os habitats selvagens pode ser a melhor maneira de o mundo evitar futuras pandemias como a Covid-19”.
“A floresta de Ebo é um ecossistema de importância mundial que alberga espécies muito ameaçadas”, declarou, em comunicado, Russ Mittermeier, presidente do grupo de peritos em primatas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). “Não consigo compreender por que razão o Governo criou uma concessão florestal a curto prazo para destruir uma parte tão importante do património natural dos Camarões. O valor futuro do ecoturismo vai ultrapassar em muito o valor da madeira, sem falar de todos os outros valores dos serviços ecossistémicos que a floresta dá às comunidades locais.”
Estima-se que a floresta de Ebo sequestre 35 milhões de toneladas de dióxido de carbono. “A sua destruição agravaria as crises do clima e da biodiversidade”, segundo a Global Wildlife Conservation.