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Biólogos de Coimbra descobrem as relações “secretas” entre plantas e animais na Gorongosa

19.09.2016

As florestas, savanas e pradarias do Parque Nacional da Gorongosa dependem de minúsculos organismos que vivem no solo. Pela primeira vez, uma equipa de cientistas identificou os fungos e bactérias que permitem às plantas germinar e crescer naquela área protegida de Moçambique, um dos lugares com maior biodiversidade de África.

 

A investigação durou três anos e os resultados foram recentemente publicados num artigo na revista científica New Phytologist.

“Até agora não havia qualquer informação sobre as comunidades de fungos micorrízicos presentes no parque, informação esta que é fundamental para ajudar na gestão eficaz dos ecossistemas no seu todo”, disse a coordenadora do estudo, a bióloga Susana Rodríguez-Echeverría, do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, em comunicado divulgado hoje pela universidade.

Estes biólogos concluíram que há uma alta diversidade de fungos no solo e até descobriram 22 novas espécies. Outras das conclusões é que cada paisagem tem uma comunidade de fungos própria e que a diversidade destes microorganismos nas florestas é muito maior que na pradaria ou savana.

Para chegar aqui, a equipa percorreu todos os caminhos do Parque da Gorongosa para escolher os locais a estudar. Depois, recolheram-se amostras de solo e raízes de diferentes espécies de plantas, enviadas posteriormente para laboratório a fim de descobrir que interações formam cada uma delas.

 

Trabalho de campo no Parque Nacional da Gorongosa
Trabalho de campo no Parque Nacional da Gorongosa

 

“Pela primeira vez estamos a identificar que fungos e bactérias existem nas raízes de plantas que são abundantes no parque”, disse Susana Rodríguez-Echeverría. “Ninguém o faz antes na Gorongosa e achámos que era importante fazê-lo.”

Segundo os investigadores, os fungos e bactérias que vivem nas raízes das plantas são essenciais para que estas cresçam, produzam sementes e se defendam. Por exemplo, os fungos nas raízes podem chegar a nutrientes que estão inacessíveis às plantas, ajudam a formar e estabilizar solos e protegem as plantas de pragas.

Por outro lado, “a simbiose com bactérias fixadoras de azoto é importante porque o azoto é um elemento que limita o crescimento das plantas”, explicou a bióloga. “As leguminosas, que podem estabelecer estas relações positivas com bactérias que lhes permitem usar azoto atmosférico, podem crescer em sítios onde outras plantas não podem; são plantas pioneiras”, acrescentou. “Além disso enriquecem os solos em azoto, o que permite a entrada de novas espécies.”

A equipa estudou também a polinização das plantas e quais as espécies de insectos e pássaros a fazem. “O projecto tenta fechar um círculo: as plantas produzem sementes que são dispersadas, normalmente por animais, em novos locais onde vão encontrar organismos no solo que lhes permitirão dar origem a uma nova planta”, explicou.

Os investigadores acreditam que este estudo pode ajudar o processo de conservação florestal e recuperação do Parque Nacional da Gorongosa. “Esta informação reforça a necessidade de manter uma paisagem complexa que contenha mais diversidade, sendo portanto mais resiliente para que o sistema não entre em falência”, acrescentou.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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