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Berta Cáceres, célebre defensora da natureza, assassinada nas Honduras

05.03.2016

Apesar das ameaças de morte, Berta Cáceres, 45 anos, insistia em lutar contra as barragens e o abate ilegal de florestas nas Honduras e pelos direitos dos povos indígenas. Até esta quinta-feira, quando homens armados a assassinaram na sua própria casa.

 

A morte de Berta Cáceres abalou as Honduras e a comunidade internacional. Tudo aconteceu quinta-feira, 3 de Março, quando homens armados entraram na casa da activista, na cidade La Esperanza, na província de Intibucá, a 300 quilómetros da capital, Tegucigalpa. Berta foi atingida mortalmente quatro vezes. Os homens fugiram sem serem identificados, noticia o jornal The Guardian.

A polícia disse aos media locais que a morte de Berta aconteceu durante uma tentativa de assalto. Mas a família tem opinião diferente. “Não tenho dúvidas de que ela foi assassinada por causa da sua luta e que os soldados e as pessoas da barragem são os responsáveis. Tenho certeza disso. O Governo é o responsável”, disse a sua mãe, 84 anos, à rádio Globo.

No centro do assassinato estará a luta de Berta e de activistas pelos direitos humanos contra um dos maiores projectos hidroeléctricos da América Central, o sistema Agua Zarca, que inclui quatro grandes barragens na bacia do rio Gualcarque.

Essa luta valeu à activista várias ameaças nos últimos meses, que subiram de tom nas últimas semanas. No final de Fevereiro, Berta fez parte de uma marcha contra a barragem na comunidade de Río Blanco. Cinquenta famílias indígenas terão sido desalojadas com violência. Na sequência deste protesto, quatro dos companheiros de Berta foram assassinados e outros receberam ameaças, tinha dito a activista à BBC, dias antes do crime.

Mas foi precisamente a luta contra as barragens que deu a Berta um prémio internacional. Em Abril do ano passado, Berta Cáceres foi uma das seis pessoas distinguidas pelos prémios Goldman que, desde 1990, distinguem anualmente os cidadãos que trabalham contra tudo e todos para melhorar o Ambiente nas suas comunidades locais.

Numa entrevista ao The Guardian, na altura em que recebeu o prémio, Berta disse que era preciso continuar a trabalhar, apesar das ameaças de morte. “Não temos outro planeta de substituição. Só temos este e precisamos de agir.”

 

Honduras e comunidade internacional indignada

 

O Presidente das Honduras, Juan Orlando Hernández, disse num discurso televisivo que as forças de segurança vão usar todos os meios para descobrir os assassinos. “O nosso compromisso é com a verdade dos factos e servir a justiça, independentemente de quem possa estar envolvido. Ninguém está acima da lei. Esta morte não ficará por punir”, disse o Presidente.

Mas muitos temem que o caso seja abafado. Quinta-feira à noite registaram-se confrontos entre estudantes e a polícia na Universidade das Honduras. Os manifestantes protestavam contra o fracasso das autoridades em proteger a activista, que recebeu repetidas ameaças de morte.

Ontem, dezenas de pessoas juntaram-se junto à morgue onde Cáceres estava a ser autopsiada para pedir justiça. Alguns tinham cartazes a dizer “não mais impunidade”.

“O assassinato cobarde de Berta é uma tragédia que só estava à espera de acontecer”, disse Erika Guevara-Rosas, directora da Aministia Internacional para as Américas, em comunicado.

Este “brutal assassinato de uma líder indígena nas Honduras traça uma imagem terrível dos perigos que enfrentam os defensores dos direitos humanos no país”, acrescentou. As Honduras são o país com o maior número de assassinatos de ambientalistas por habitante e o quarto a nível mundial, com 12 assassinatos em 2014.

As vozes de indignação vieram também dos Estados Unidos. “Condenamos fortemente este crime desprezível”, disse o embaixador norte-americano James Nealon, em comunicado. “Os Estados Unidos pedem uma investigação rápida e rigorosa a este crime e que todos os meios das autoridades sejam usados para entregar à justiça os responsáveis”, acrescentou. James Nealon avançou que já ofereceu às autoridades das Honduras “todos os recursos do Governo norte-americano” para esse fim.

“A coragem de Berta face à impressionante repressão será um apelo e incentivo ao activismo ambiental nas Honduras”, disse, em comunicado, David Gordon, director-executivo dos Prémios Goldman. No momento em que recebeu o prémio, Berta disse que “dar as nossas vidas pela protecção dos rios é dar as nossas vidas em nome do bem-estar da humanidade e deste planeta”.

Várias organizações não governamentais internacionais já pediram a investidores e empresas de engenharia internacionais para retirarem o apoio ao projecto hidroeléctrico Agua Zarca.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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