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Ribeira de Oeiras, Mértola. Foto: ANP-WWF

Barreira fluvial obsoleta vai ser removida em Mértola

28.11.2024

A remoção do açude Horta do Fialho, na ribeira de Oeiras (Mértola), prevista para 2025, vai permitir restaurar a conectividade fluvial em mais de dois quilómetros e promover a conservação de mexilhões de água doce e de outras espécies ameaçadas, anunciou a ANP-WWF.

A ANP|WWF vai iniciar, em 2025, a remoção do açude Horta do Fialho, localizado na Ribeira de Oeiras – que nasce na Serra do Caldeirão e desagua no Guadiana (Mértola) – , “um açude que já não cumpre a função para a qual foi construído e que, aos dias de hoje, está apenas a obstruir o curso natural da ribeira”, explicou a organização em comunicado.

Ribeira de Oeiras, Mértola. Foto: ANP-WWF

Esta remoção irá realizar-se com o apoio do programa European Open Rivers Programme, uma organização que atribui fundos dedicados à remoção de barreiras obsoletas em rios europeus, com vista ao seu restauro.

“A remoção deste açude vai permitir restaurar a conectividade fluvial da Ribeira de Oeiras, recuperando 2,34 km desta ribeira e melhorando o seu estado ecológico. Vai ainda contribuir para melhorar não só a vegetação ripícola na área de intervenção, mas também o habitat para peixes nativos e espécies de mexilhões ameaçadas.”

Na Ribeira de Oeiras vivem várias espécies autóctones e ameaçadas de extinção, como o mexilhão-de-rio-do-sul (Unio tumidiformis), cujos peixes hospedeiros estão restritos unicamente às espécies do género Squalius, ou a enguia europeia (Anguilla anguilla). Esta sub-bacia do rio Guadiana é também habitat de mamíferos emblemáticos, como o lince-ibérico (Lynx pardinus) e a lontra (Lutra lutra).

Ribeira de Oeiras, Mértola. Foto: ANP-WWF

“Esta ação de restauro pode ainda criar condições para o regresso de outros peixes ameaçados anteriormente encontrados na ribeira, como por exemplo o caboz-de-água-doce (Salariopsis fluviatilis) ou a lampreia marinha (Petromyzon marinus).”

Este projeto inclui a monitorização das comunidades de peixes e mexilhões de água doce e da qualidade da água, o que permite avaliar a abundância de biodiversidade antes e após a remoção.

A iniciativa conta com a colaboração das autoridades locais e das comunidades, incluindo os proprietários dos terrenos onde a barreira está inserida. 

“Esta remoção vem abrir caminho para o restauro total da conectividade da ribeira de Oeiras (143,3 km) – a ANP|WWF está a estudar nove barreiras identificadas na Ribeira com o intuito de libertar todo o seu curso, contribuindo para melhorar o seu estado ecológico e promover a conservação da biodiversidade.”

Ribeira de Oeiras, Mértola. Foto: ANP-WWF

Esta é a terceira vez que a ANP|WWF ganha um financiamento do European Open Rivers Programme para remover uma barreira fluvial obsoleta e estudar outras para futuras remoções, seguindo a estratégia para a Biodiversidade 2030 e a nova Lei do Restauro da Natureza que obriga os estados membros da UE a libertar pelo menos 25.000 km de rios em toda a Europa, cabendo a Portugal libertar cerca de 600 km de rios.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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