Montado do Ribatejo e do Alentejo estão entre as zonas analisadas por este estudo em que 100 investigadores aplicaram o mesmo método de análise em 25 países de seis continentes.
O estudo, publicado num artigo da revista Science, olhou para as zonas áridas que, actualmente, ocupam mais de 40% do planeta. É nas suas pastagens que está mais de metade de todo o gado. O pastoreio é fonte de subsistência para milhões de pessoas em todo o mundo mas, segundo os investigadores, “em muitos locais é feito à custa da degradação dos ecossistemas”. Hoje, o pastoreio representa o uso do solo mais extenso em todo o mundo.
Os mais de 100 investigadores quiseram perceber qual o impacto do pastoreio nas regiões áridas (semiáridas e sub-húmidas secas) do planeta. Pela primeira vez foi aplicado exatamente o mesmo método de análise em 98 locais de 25 países em seis continentes, incluindo em Portugal.
Sob coordenação de Fernando Maestre, da Universidade de Alicante (Espanha), a equipa caracterizou os ecossistemas destas regiões em termos de clima, tipo de solo e biodiversidade e os serviços vitais que desempenham, como a manutenção da fertilidade do solo, a capacidade de reter carbono e a regulação do ciclo hidrológico.
Os resultados revelaram que “o aumento da pressão de pastoreio reduziu a maioria dos serviços analisados em áreas mais quentes e pobres em espécies”, explicou, em comunicado, Alice Nunes, coordenadora do grupo de investigação em Ecologia das Alterações Ambientais do cE3c da Ciências ULisboa (Ciências ULisboa).
Esta redução dos serviços pelo sobrepastoreio é reflexo da sua degradação, acelerada “por um clima em mudança e cada vez mais árido”, acrescentou a investigadora, e pela perda de biodiversidade.
Segundo Melanie Köbel, investigadora a realizar doutoramento no mesmo grupo de investigação, o estudo reforça “a importância de conservar e restaurar as comunidades vegetais para prevenir a degradação do solo, assegurar a prestação de serviços de ecossistema essenciais para os seres humanos e mitigar as alterações climáticas nas zonas áridas”.
Ainda assim, o estudo encontrou “efeitos positivos do pastoreio em áreas mais frias e ricas em espécies”.
Os autores notam que esta divergência reforça a necessidade de adaptar a pressão e a gestão do pastoreio ao contexto local.
As investigadoras Alice Nunes e Melanie Köbel integraram a equipa e adicionaram áreas de montado no Ribatejo e no Alentejo ao estudo, por se tratar de um ecossistema de reconhecida importância social, económica e ambiental, sujeito ao pastoreio e vulnerável às alterações climáticas.