Uma equipa de investigadores estudou 79 tubarões-azuis (Prionace glauca) no Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, na Arrábida, e descobriu que esta zona poderá ser um berçário para esta espécie tão importante e com estatuto de Quase Ameaçada.
Investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente colocaram sistemas de câmaras remotas com isco ao largo da costa do Parque Natural da Arrábida, no Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, para estudar o comportamento do tubarão-azul (Prionace glauca) e o efeito do ruído de embarcações em termos de alterações comportamentais.
Os resultados da investigação, no âmbito da tese de Doutoramento da investigadora Noélia Ríos, inserida no projeto INFORBIOMARES, acabaram de ser publicados na revista Marine Ecology Progress Series.
As câmaras conseguiram registar os comportamentos de 79 tubarões, “revelando padrões distintos entre juvenis e adultos consoante a estação do ano e a distância à costa”, explica o MARE, em comunicado.
A investigação revelou que tubarões juvenis foram avistados mais frequentemente em águas menos profundas e durante a primavera, o que coincide com a época de reprodução da espécie, reforçando, assim, a enorme importância da área ao largo do Parque Natural da Arrábida, na zona do canhão de Lisboa, como potencial zona de berçário para o tubarão-azul.
Mais concretamente, os tubarões-azuis juvenis foram vistos mais frequentemente em zonas entre os 60 e os 1000 metros de profundidade, enquanto os adultos foram vistos mais vezes mais longe da costa e a profundidades maiores, entre os 1200 e os 2000 metros.
Estas observações levam os investigadores a defender a necessidade de olhar para os canhões submarinos como zonas a proteger e preservar.
O estudo revelou também que, na presença de ruído de embarcações, os tubarões-azuis alteraram alguns padrões comportamentais. Uma vez que pode existir um efeito oculto do ruído sobre a eficiência na procura e captura de alimento, os investigadores defendem a necessidade de se fazerem mais estudos dedicados que confirmem essa hipótese.
Os tubarões desempenham um papel crucial na manutenção da estabilidade e saúde dos ecossistemas marinhos. “A pesca comercial excessiva destas espécies, com pesca dirigida ou acessória, exerce uma enorme pressão nas populações de tubarões a nível global, provocando desequilíbrios ecológicos com repercussões em todo o ecossistema.”
O tubarão-azul ou tintureira, com o seu corpo esguio em tons azulados, vive nas zonas profundas dos oceanos e pode ser muito veloz.
Em adultos, os machos medem entre 1,82 a 2,82 metros, enquanto as fêmeas medem entre 2,2 a 3,3 metros.
Alimenta-se, principalmente, de pequenos peixes e de lulas.
Esta é uma das espécies de tubarão mais capturadas a nível mundial. Em 2019 foi classificado como Quase Ameaçado pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Em Portugal é a espécie de tubarão mais capturada pela frota do palangre de superfície, uma pesca realizada com linhas e anzóis, dirigida a grandes peixes como o atum e o espadarte mas que, frequentemente, captura tubarões, atraídos pelo isco.