Os incêndios de Outubro, que se seguiram aos grandes fogos do Verão, causaram a destruição de mais de 500 mil hectares de floresta a Norte do rio Tejo. Como resultado, muitos animais selvagens correm dificuldades, afectados também pela seca extrema dos últimos meses.
A Wilder contactou dois responsáveis ligados a centros de recuperação de vida selvagem em Portugal, para tentar saber qual a melhor forma de ajudar os animais cujos territórios arderam, devido aos incêndios.
“Além da falta de alimentos, o que também afecta muito os animais é a falta de água”, considerou Samuel Infante, responsável pelo CERAS (Centro de Estudo e Recuperação de Animais Selvagens), em Castelo Branco.
Por esse motivo, “as pessoas podem ajudar colocando bebedouros nos quintais e nos perímetros das povoações, tal como alimentadores para as aves”, disse à Wilder este responsável da Quercus.
Ainda assim, recorrendo ao bom senso. Recentemente, a associação pediu ao Governo para suspender a caça a Norte do rio Tejo, como medida excepcional, uma vez que têm recebido dezenas de denúncias de “abate indiscriminado” de coelhos-bravos, que se aproximam das povoações para se alimentarem nas únicas zonas verdes que ainda se mantêm disponíveis.
Já o coordenador do CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), Ricardo Brandão, lembrou que o próprio centro situado em Gouveia chegou a estar rodeado pelas chamas, na manhã de 16 de Outubro. “Tivemos uma grande ajuda dos bombeiros e do Município de Gouveia, bem como de voluntários, que salvaram o CERVAS das chamas”, agradeceu.
Quanto à forma de ajudar os animais que permanecem nos locais devastados pelos incêndios, “é difícil saber”, notou. Este veterinário tem dúvidas sobre “até que ponto essas acções são úteis e necessárias”, pois há o perigo de “habituação dos animais a fontes de alimento não naturais” e podem surgir problemas “devido à proximidade desses animais às povoações”.
“A ser feito, deveria ser sempre com o alimento mais natural possível e direccionado para uma determinada espécie. Por exemplo, deixar bolotas para os gaios ou pinhas com pinhões para os esquilos.”
Ajudar os centros de reabilitação
Já as ajudas aos próprios centros de reabilitação de vida selvagem são outra forma de apoio possível. Pode-se apadrinhar os animais que ali se encontram, tal como doar alimentos e dinheiro ou fazer trabalho voluntário. Isto, embora sejam poucos os sobreviventes.
No CERVAS, que fica situado no Parque Natural da Serra da Estrela, após o incêndio de 15 de Outubro deram entrada seis animais com queimaduras – uma fuinha, duas ginetas, uma gralha-preta, uma lebre e um pisco-de-peito-ruivo – além de outros dois que vieram de locais atingidos pelo fogo: um corço atropelado em Oliveira do Hospital e uma águia-d´asa-redonda recolhida numa zona ardida, com uma fractura na clavícula.
“Todos acabaram por morrer excepto a águia-d´asa-redonda, devido à extensão das queimaduras”, lamentou Ricardo Brandão.
Tendo em conta o total de entradas no centro desde o início do ano, num total de 491 animais, “o número de ingressos relacionados com fogos é muito reduzido”, uma vez que “a maior parte morre no campo”, notou o veterinário.
Ricardo Brandão lembrou ainda que a área ardida no Parque Natural da Serra da Estrela “é enorme”.
“Em Gouveia podemos destacar a perda de alguns locais importantes para a biodiversidade da Serra da Estrela como Folgosinho, Curral do Negro, Vale do Rossim / Alto Mondego, mas infelizmente houve muito mais áreas florestais importantes que demorarão anos a recuperar.”
O Curral do Negro, por exemplo, é frequentado “por três espécies de pica-paus, gaios, trepadeiras (azuis e comuns), tordoveias, piscos, corujas-dos-mato, esquilos, fuinhas e muitas outras”.
“Neste momento, está em silêncio.”
Seca também preocupa
Já no CERAS, a preocupação com a seca prolongada que se vive na região de Castelo Branco junta-se aos incêndios.
“Temos agora mais de 40 animais selvagens, quando o normal para esta altura do ano seria termos entre 10 a 12”, descreveu Samuel Infante. “Há muitos animais que nos chegam que não vêm com queimaduras, mas sim com traumatismos. Mas neste fluxo tão grande de animais que não pára, muitos chegam desidratados”.
Desde o início deste ano, entraram no centro quase 400 animais, quando o normal seria, até esta altura do ano, um total de cerca de 200, resumiu este responsável.
[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.
Quer ajudar os animais que estão no CERVAS e no CERAS?
No caso do centro localizado em Gouveia, pode fazer donativos e apadrinhamentos, tal como angariação de material. Pode ainda ajudar de forma voluntária no trabalho diário do centro.
Quanto ao CERAS, se quiser ser voluntário, pode contactar este centro pelo email [email protected]. Também pode apadrinhar os animais (aqui) ou fazer donativos.