Novo Relatório sobre o estado do ambiente da Agência Europeia do Ambiente, divulgado hoje, defende “medidas urgentes” até 2030. A falta da protecção da biodiversidade é a maior falha.
O relatório “O Ambiente na Europa: estado e perspectivas 2020 (SOER 2020)” – a avaliação ambiental mais exaustiva alguma vez realizada na Europa – alerta que “a Europa enfrenta desafios ambientais de escala e urgência sem precedentes”.
Este relatório, produzido pela Agência Europeia do Ambiente (AEA) a cada cinco anos, revela que “as tendências ambientais globais na Europa não melhoraram desde o último relatório, em 2015”.
A conservação da biodiversidade é o “domínio em que o progresso tem sido mais desencorajante”, sublinha a AEA em comunicado.
“Dos 13 objectivos de política específicos definidos para 2020 neste domínio, apenas dois serão provavelmente atingidos: designar zonas marinhas protegidas e áreas terrestres protegidas.”
Entre os objectivos onde menos se tem feito estão a protecção de espécies e habitats, nomeadamente espécies comuns de aves e borboletas – em especial as aves de zonas agrícolas e as borboletas de zonas de pastagens -, a protecção dos serviços dos ecossistemas, a conservação de ecossistemas aquáticos e zonas húmidas, o estudo da biodiversidade marinha e os impactes das alterações climáticas nos ecossistemas.
Actualmente, 60% das espécies e 77% dos habitats protegidos pela Directiva Habitats da União Europeia (UE) estão ameaçados.
“A Europa precisa de fazer melhor, tem de enfrentar determinados desafios de forma diferente e precisa de repensar os seus investimentos.”
A janela de oportunidade é de apenas 10 anos, considera Hans Bruyninckx, director-executivo da AEA, em comunicado.
Domingos Leitão, director-exectivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), considerou hoje que este relatório “é mais uma prova gigantesca para juntar aos inúmeros estudos científicos que dão provas da crise que criámos a nível planetário”.
Mesmo para a designação de áreas protegidas, a Spea mantém-se céptica. “Sem planos e acções de gestão adequados, estas áreas são protegidas apenas no papel, a perda de biodiversidade continuará”.
“A natureza está a ser apagada da face da Terra, com consequências nefastas para a própria humanidade, e ninguém pode dizer que não sabíamos”, acrescentou, em comunicado.
No caso de Portugal, a Spea aponta o dedo “à má aplicação das políticas agrícolas”, nomeadamente o investimento de “milhões de euros na agricultura intensiva, no regadio”. Além disso, “os agricultores cujas explorações estão nas áreas protegidas e classificadas vêem-se impedidos de fazer uma gestão favorável à biodiversidade por falta crónica de apoios do Ministério da Agricultura”.
Para a semana, a nova Comissão Europeia vai lançar o seu Acordo Verde Europeu (European Green Deal). “A resposta dos Governos europeus será crucial para responder à dimensão da crise que temos entre mãos.”
Domingos Leitão apela ao Governo português para “ouvir os cientistas” e “deixar de promover o regadio e a agricultura intensiva, abster-se de autorizar projectos imobiliários e turísticos na linha de costa, acabar com a sobre-exploração dos recursos pesqueiros e proteger as reservas e parques naturais do impacto causado por aeroportos, minas e outros projectos destrutivos”.
Este é o 6º SOER publicado pela AEA desde 1995.
Saiba mais.
Aqui pode ler o relatório SOER 2020 completo.