Helena GeraldesO leitor Mário Marques encontrou este anfíbio a 26 de Janeiro de 2019 em Forninho, Poceirão (Palmela) e pediu para saber a que espécie pertence. Rui Rebelo responde.
“Por vezes, no meio dos pés do feijão verde, surge este sapo. Tem olhos verdes e tem uma característica curiosa, que é o facto de não saltar, mas sim correr. Levanta o corpo e corre como um lagarto”, contou o leitor à Wilder.
“Gostaria, se possível, de saber mais sobre este sapo. Aproveito para questionar se este animal é um bom bioindicador sobre a presença/ausência de produtos químicos nocivos ao ambiente. Gosto sempre de apreciar a presença de todos estes animais, que já vou enviei, no meio da minha horta. Tenho o cuidado de não usar produtos químicos e penso que a sua existência se deve a esse cuidado ao longo dos anos.”
Trata-se de um sapo-corredor, Bufo calamita (ou Epidalea calamita, segundo alguns novos autores).
Espécie identificada e texto por: Rui Rebelo, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
De facto a sua principal característica é correr! (daí o nome). É uma espécie relativamente abundante em zonas arenosas ou de solos soltos, como quase todos os terrenos aluviais da bacia do Tejo.
Outra característica impressionante são de facto os olhos verdes. Este animal parece ser um macho. As fêmeas costumam ter um padrão dorsal mais contrastante.
Não há muitos estudos sobre a potencialidade de uso como bioindicador. Sei que os adultos conseguem suportar algum nível (moderado!) de pesticidas e de fertilizantes. No entanto, reproduz-se geralmente em charcos pequenos e rasos, com pouca água. Aí, sabe-se que os girinos são sensíveis a poluentes.
Esta espécie tem girinos muito pequenos e “aposta” em produzir um número enorme de ovos (até 4.000), que se desenvolvem depressa.
Os girinos também se desenvolvem depressa e metamorfoseiam-se em 2 meses (ou ainda menos), passando para terra como sapinhos muito pequenos (menos de 1 cm de comprimento).
O que acontece a seguir com estes sapinhos (que podem ser confundidos com aranhas ou pequenos insectos) até chegarem a adultos é totalmente desconhecido. Nomeadamente se são ou não sensíveis a poluentes.
Em Portugal esta espécie não está ameaçada, mas no norte da Europa está e até há programas de conservação específicos para ela em Inglaterra.
[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.
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