Estas são algumas das espécies que podemos observar durante o Outono. Vamos procurar estas e outras espécies e anotá-las no Caderno de Campo Wilder, na tabela: o nome, a data e o local da observação.
Abibe (Vanellus vanellus):
“A partir de Outubro surgem por todo o lado diversas espécies que vêm passar a estação fria entre nós”, explica Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal. “Entre elas podem referir-se o abibe, que surge em bandos numerosos, sobretudo em zonas abertas.”
A poupa, os tons esverdeados das penas e as vocalizações fazem do abibe uma ave incontornável. Esta ave invernante, especialmente comum na metade Sul de Portugal, pode ser observada em zonas abertas, como pastagens, pousios e terrenos incultos. Esta linda ave escolhe, por exemplo, a lezíria do Tejo e as planícies alentejanas como a sua casa de Inverno. Segundo o “Aves de Portugal”, esta é a espécie limícola mais numerosa das que ocorrem no país. É em Novembro que se regista o maior número destas aves. A sua partida faz-se no final de Janeiro e Fevereiro.
Saiba mais. Em 2018 foi lançado o Atlas das Aves Invernantes e Migradoras com registos de 415 espécies, entre elas o abibe.
Águia-calçada (Aquila pennata):
Esta é uma rapina de médias dimensões, que se caracteriza pela sua cauda quadrada e pelas patas emplumadas, segundo o portal Aves de Portugal. É uma espécie que surge em duas formas: a forma clara (mais frequente) e a forma escura (mais escassa). A águia-calçada é uma espécie estival que pode ser vista em Portugal principalmente de Março a Setembro. Distribui-se de norte a sul do país, sendo bastante frequente no Alentejo, no Ribatejo e na Beira interior. Alguns indivíduos permanecem entre nós durante a estação fria, maioritariamente junto à faixa costeira.
Tem estatuto de conservação de Quase Ameaçada.
Saiba mais. Durante sete anos, 21 águias-calçadas que nidificam em Espanha foram seguidas por GPS para desvendar por onde andam nas suas migrações e onde passam o Inverno.
Alecrim (Salvia rosmarinus):
O alecrim é uma espécie muito comum e que se encontra em flor nesta estação do ano. Esta planta arbustiva perene, que pode atingir até dois metros de altura, é bastante aromática: “O alecrim exala um aroma balsâmico canforado, fresco e doce. É uma planta melífera, muito apreciada pelas abelhas, uma vez que as suas flores são ricas em pólen e néctar”, descreve a botânica Carine Azevedo. A folhagem persistente é fina e coriácea, com um aroma muito intenso, e as folhas são verde-escuras e brilhante na página superior e verde-acinzentadas na outra face, acrescenta esta especialista. Já as as flores, “de cor azulada, por vezes rosada ou branca, surgem agrupadas em inflorescências”. A floração ocorre ao longo de todo o ano, sendo mais intensa entre o final do Outono e o Inverno.
Classificado anteriormente como Rosmarinus officinalis, o alecrim é afinal um parente próximo das Sálvias e o seu nome científico actual é Salvia rosmarinus. Descubra mais aqui sobre esta planta nativa de Portugal.
Borboleta Cymbalophora pudica:
Esta borboleta é um sinal do Outono. “É uma borboleta nocturna lindíssima que pode ser observada junto a luzes e que por vezes produz som durante o voo”, explica Sónia Ferreira, entomóloga e investigadora no CIBIO-InBIO. As lagartas podem ser observadas de Maio a Junho; os adultos podem ser vistos a voar de Agosto a Setembro, dependendo da sua localização. Esta espécie ocorre no Sul da Europa, desde a Península Ibérica à Grécia, e no Norte de África. A envergadura de asa pode chegar aos 42 milímetros. As asas são de tons branco amarelado ou rosa com padrões triangulares pretos.
Caracoleta (Cornu aspersum):
Esta espécie é relativamente comum no nosso país. “Com o aumento da humidade é mais frequente observar estes moluscos; podemos tentar distingui-los do mais raro caracol-leitoso Otala lactea“, sugere Sónia Ferreira, investigadora do CIBIO-InBIO. O nome que aparece na maioria das publicações é Helix aspersa mas, recentemente, foi substituido numa revisão taxonómica por Cornu aspersum. Segundo o portal Naturdata, este caracol terrestre tem uma concha que pode variar entre os 25 e os 45 milímetros de diâmetro. E é mais comum no sul do país. No Inverno e em períodos de grande calor, estes animais selam a concha com muco endurecido e reúnem-se em locais secos e abrigados para hibernar. Os caracóis podem pôr até 40 ovos de cada vez. Cerca de um mês depois, dos ovos saem minúsculas cópias dos progenitores.
Castanheiro (Castanea sativa):
“Segundo o ditado popular, ‘um castanheiro leva 300 anos a crescer, 300 anos a viver e 300 a morrer’, o que é facilmente fundamentado pela existência de diversos exemplares, monumentais, centenários, em todo o território nacional”, explica a botânica Carine Azevedo. Para esta árvore nativa, o Outono significa estação da colheita. “As flores perfumadas que se formaram entre abril e junho deram origem aos frutos, que amadureceram e abriram, libertando as sementes. É entre o final de Setembro e Novembro que se faz a colheita das castanhas”, descreve. O castanheiro distribui-se um pouco por todo o país, desde as terras frias de Trás-os-Montes, Minho Interior e Beiras ao Alentejo e Algarve. Pode encontrar-se ainda na Ilha da Madeira e nos Açores.
Sabia que os castanheiros são o tema de um poema de A.M. Pires Cabral? E já conhece o castanheiro milenar de Vales?
Cila-de-Outono (Scilla monophyllos):
Devido à beleza das suas flores, a cila-de-Outono (Scilla autumnalis) é “uma espécie muito apreciada como planta ornamental”, e é também “muito fácil de identificar” por ser a única do género que floresce na estação do ano que lhe dá o nome, nota a botânica Carine Azevedo. Esta pequena planta bolbosa da família das Asparagaceae “desponta de um dia para o outro de forma súbita e inesperada, assim que recebe as primeiras chuvas de Outono”. As flores surgem entre Setembro e Outubro. “Antes mesmo de se formarem as primeiras folhas, forma-se “uma haste floral fina e dura, com uma inflorescência em cacho com três a 15 flores agrupadas, de cor azul ou violeta e com uma nervura central mais escura.” Já as folhas podem permanecer na superfície por muito tempo e acabam por morrer antes de surgirem as flores do ano seguinte, “repetindo-se o ciclo.” Esta planta nativa de Portugal pode ser vista um pouco por todo o país, em zonas arenosas ou rochosas, charnecas, pinhais, clareiras de matos xerófilos e no subcoberto de bosques de carvalho e sobreiro.
Saiba mais. A cila-de-Outono é uma entre várias espécies de cilas nativas de Portugal, todas elas pertencentes ao género Scilla. “Scillas há muitas, mas todas são únicas”, nota a botânica Carine Azevedo.
Cocheiro-do-diabo (Ocypus olens):
Este escaravelho razoavelmente grande é por vezes confundido por grilos, devido ao seu corpo alongado e à sua cor negra, nota a entomóloga Sónia Ferreira. Esta espécie pode ser observada no solo, por vezes debaixo de pedras. “O seu nome científico é Ocypus olens e a tradução do seu nome comum em inglês é cocheiro-do-diabo, embora já tenha ouvido chamar-lhe popularmente “alacroa”, provavelmente pelo hábito que tem de levantar o abdómen quando se sente ameaçado e que o faz parecer um escorpião”, explica por sua vez Eva Monteiro, entomóloga do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal. Embora não pique, nem tenha veneno, como os escorpiões, parece que pode dar dolorosas dentadas com as suas grandes mandíbulas.
Observe um cocheiro-do-diabo em pose defensiva, identificado por Albano Soares no “Que Espécie é Esta?”.
Esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris):
Durante o Outono, procure observar ninhos de esquilo-vermelho em árvores. Segundo o investigador Francisco Álvares, do CIBIO-InBIO, estes “poderão ser mais fáceis de detectar quando as árvores caducifólias perdem a folha” nesta estação do ano. Os esquilos vermelhos são a única espécie de esquilos presente em Portugal. São facilmente identificados pela sua cauda felpuda e pelos tufos de pêlos das orelhas. Já a sua coloração pode variar desde o mais acinzentado para o preto. Hoje, o esquilo vermelho encontra-se em todo o norte e centro do país. As pinhas são o alimento preferido destes animais. Quando não são consumidas no momento em que são encontradas, podem ficar armazenadas em buracos ou no solo, para serem comidas mais tarde. No entanto, o que acontece muitas vezes é que ficam esquecidas. O esquilo torna-se assim num importante dispersor de sementes e, desta forma, desempenha um papel muito importante na regeneração e manutenção das nossas florestas.
Gafanhoto-do-Egipto (Anacridium aegyptium):
Esta é a maior espécie de gafanhoto português, que se distingue pelo tamanho, olhos riscados e pronoto (zona atrás da cabeça) mais ou menos em forma de telhado. Também é um dos maiores gafanhotos europeus. Os machos adultos podem medir entre 30 e 56 milímetros e as fêmeas entre 46 e 70 milímetros. É uma espécie que hiberna no estado adulto e está preparada para suportar o frio dos nossos Invernos, sendo muitas vezes encontrado junto a vinhas.
Grilo-do-mato (Thyreonotus bidens):
“Apesar do nome trata-se de um saltão de grandes dimensões, cujo canto é audível a vários metros de distância”, descreve a entomóloga Sónia Ferreira. O grilo-do-mato, também conhecido como saltão, é uma espécie endémica da Península Ibérica que vive em matos e florestas com vegetação arbustiva no sob coberto. Estes animais comem pequenos insectos, entre eles as urticantes lagartas do pinheiro, e são difíceis de observar devido aos seus hábitos crepusculares e noturnos.
Libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii):
É uma das libélulas mais comuns em Portugal. Pode ser avistada em qualquer parte do território e pelo menos no sul do país em qualquer altura do ano, mas por vezes também se observam grandes grupos a chegarem de Marrocos. Reproduz-se em águas paradas ou com pouca corrente, mesmo nos lagos urbanos. As larvas aguentam águas com falta de oxigénio e até com alguma poluição. “Esta espécie faz movimentos migratórios regulares no final do Verão e no Outono, cujo alcance ainda não conhecemos”, explica Albano Soares, entomólogo do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.
Recorde a crónica de Paulo Catry sobre a migração outonal das libélulas, em especial a libélula-de-nervuras-vermelhas.
Medronheiro (Arbutus unedo):
“O medronheiro é uma planta melífera, muito atractiva e procurada pelas abelhas. Os frutos são muito apreciados pelas aves e mamíferos selvagens numa época em que o alimento começa a ser escasso”, lembra a botânica Carine Azevedo.
Esta espécie da família Ericaceae é nativa da região mediterrânea e comum por todo o Portugal Continental, em especial nas regiões Centro e Sul. “É uma espécie impar, com um ciclo de desenvolvimento fora do habitual”, salienta a especialista. “Com um período de floração muito longo, as suas flores surgem no Outono, ao mesmo tempo que ocorre a frutificação. Por isso é comum verem-se flores e frutos, em simultâneo na mesma planta.”
O fruto desta pequena árvore de crescimento lento, de tons amarelos, laranjas e vermelhos, é conhecido por medronho e “é comestível, de sabor ligeiramente ácido mas agradável.” “Pode ser consumido ao natural, diretamente da árvore e quando maduro.”
Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca):
“O final do Verão e o início do Outono é uma altura de forte passagem de passeriformes migradores”, explica Gonçalo Elias, responsável do portal Aves de Portugal. “Os nossos bosques e os nossos campos enchem-se de aves vindas do norte da Europa que vão a caminho de África, entre elas o papa-moscas-preto. Entre meados de Setembro e meados de Outubro, um passeio em qualquer zona florestal deverá permitir observar esta espécie.”
Os papa-moscas-pretos são mais pequenos do que o pardal-doméstico e pesam cerca de 12 gramas.
Esta ave pode ser observada em Portugal durante as épocas de migração, em especial no mês de Setembro, quando a espécie faz uma pausa prolongada, na viagem de regresso aos territórios de invernação na Costa do Marfim e Guiné.
Desde o final do Verão e o início do Outono, este migrador de passagem é uma das aves mais comuns no nosso território, segundo o portal Aves de Portugal.
Sabia que os papa-moscas-pretos atravessam o maior deserto do mundo sem descansar?
Veado-vermelho (Cervus elaphus):
No início do Outono é a altura de procurar escutar a brama dos veados. A brama acontece durante o período reprodutivo dos veados. Nesta altura, os machos escolhem locais descampados, mais abertos, e tentam dar nas vistas. Estes comportamentos servem para defender ou reclamar territórios com melhores condições e para atrair as fêmeas. E no final do Outono há a possibilidade de, nos seus passeios pelas serras, encontrar alguma das suas hastes caídas.
Saiba mais sobre a brama dos veados aqui.