Algo de especial se sente quando nos encontramos na presença de árvores antigas, seculares, de grande porte. Mais ainda quando elas ocorrem em espaços selvagens, alguns, que por serem remotos, explicam porque estes grandiosos seres vivos sobreviveram à voragem do Homem.
Já o senti com carvalhos, pinheiros-silvestres, castanheiros. Com espécies longevas como teixos, azevinhos, medronheiros arbóreos o sentimento é maior. O espaço que envolve estes gigantes ganha magia. Experienciei-o em diversos espaços naturais das montanhas ibéricas mas também em florestas nativas da América do Sul, na cordilheira dos Himalaias e na Ásia Central.
Nestas férias aconteceu de novo.
São enormes, imponentes, não podiam ser mais aprumadas, verticais. O tronco está revestido por uma casca castanha-avermelhada, macia e fibrosa maioritariamente desprovido de ramos. Estes concentram-se na região apical das árvores tornando mais fácil apreciar a sua grandeza, o que nem sempre é possível para quem observa o arvoredo a partir do solo. As suas copas são cónicas, destacando-se na altivez com que dominam todo o espaço aéreo envolvente.
Encontrei-me com a sequoia-vermelha, ou sequoia-costeira, numa propriedade particular, de familiares, com cerca de 100 hectares, às portas da cidade de Guimarães. Antevia uns dias de férias descontraídos, sem um objetivo específico, mas o núcleo de sequoias que sabia existir, rapidamente condicionou e dominou todos os dias da semana que lá passei.
A Sequoia semprevirens é uma espécie (a única não extinta) do género Sequoia. Da família Cupressaceae, integra a subfamília Sequoioideae de que fazem parte também os géneros Sequoiadendron – a que pertence a S. giganteum, sequoia-gigante das montanhas da Sierra Nevada – e Metasequoia.
A espécie inclui os mais altos e massivos seres vivos do planeta, podendo atingir alturas superiores a 100 metros e diâmetros de quase 10 metros, como ainda hoje se pode comprovar numa parte da costa californiana e no sudoeste da costa do Oregon, área de ocorrência natural desta sequoia que por isso se designa costeira.
Voltemos ao Paço de S. Cipriano onde se tem pois um cheirinho do Redwood National Park. Em redor deste pequeno núcleo minhoto de sequoias-sempre-verdes também existem enormes Pseudotsuga e Chamaecyparis, mas as semelhanças com as florestas da costa californiana ficam-se por aqui. No entanto, o interesse de um antepassado dos atuais proprietários, pelo arvoredo, levou-o a plantar essências de outras paragens, de outros continentes.
Uma majestosa araucária da América do sul, imponentes Cedrus Atlantica (cedro-do-atlas) e inúmeros eucaliptos insinuam-se às sequoias, tal a sua grandeza e magnificência. Tratamos de espécies exóticas, nalguns casos de más memórias, mas aqui, neste espaço rural, exemplares tão singulares fazem sentido. Para a eles acedermos, há que percorrer trilhos, alguns atravessando uma espessa mata antiga onde, agora, são as espécies autóctones que se misturam, compondo um verdadeiro carvalhal, amostra do que foi o coberto vegetal natural da região. Carvalhos-alvarinhos estão rodeados de muito azevinho, padreiros, loureiros, aveleiras e castanheiros. No sub-bosque destacam-se núcleos de gilbardeira. Desta espessura natural também emergem grandes árvores. Há exemplares de carvalhos e azevinhos de porte assinalável.
Voltemos às sequoias. Contei 14 exemplares, distribuídos por dois núcleos onde se constata alguma regeneração espontânea. Em todos eles foi medido o diâmetro à altura do peito (DAP). O maior ultrapassa o metro e setenta centímetros. Pelo método dos triângulos foi medida a altura do exemplar mais acessível para este efeito: 45,8 metros para um DAP de 122cm. Mais tarde esta altura foi confirmada recorrendo a um drone que também apurou a altura da árvore com o maior DAP, 52 metros. Foi ainda apurada a altura de 50 metros para uma terceira sequoia que exibe um DAP de 136cm. As primeiras árvores terão sido introduzidas há cerca de 180 anos.
Em regiões tão densamente povoadas, como é grande parte do noroeste português, subsistem poucos espaços como este, com uma dimensão que justificaria um forte investimento na área da conservação da natureza, nomeadamente na valorização do coberto vegetal, assente num reordenamento que permitisse salvaguardar parte do território à intromissão de espécies exóticas, quase sempre introduzidas para ajudar a viabilizar a manutenção da integridade de um espaço que constantemente requer recursos (principalmente) para a conservação do edificado. Tal também permitiria ampliar a diversidade faunística com projetos ambiciosos de reintrodução de espécies, a juntar às que aqui subsistem. Javalis e raposas criam dentro da propriedade, como revelam “trails cameras” instaladas.
Por estes dias os esquilos não largam as aveleiras. Fuinhas, doninhas e ginetas movem-se mais de noite. Nas que aqui passei ouviram-se “conversas” entre várias corujas-do-mato, mochos-galegos e noitibós. De dia foram sempre os pica-paus – reais e malhados-grandes -, quem mais se fez ouvir.
Miguel Dantas da Gama
Preservacionista, Membro do Conselho Estratégico do Parque Nacional da Peneda-Gerês
2024.setembro.01