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Escalo-do-Arade. Foto: Projeto Falanges

Projeto Falanges libertou 20 escalos-do-Arade na ribeira de Odelouca

16.07.2025

Criação em cativeiro e de repovoamento de peixes de água doce estendem-se a outras duas espécies ameaçadas.

O escalo-do-Arade (Squalius aradensis) é uma espécie que vive exclusivamente em território português, mais precisamente nalgumas ribeiras a sul. Classificado como Em Perigo de extinção pelo Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas (2023), é alvo de iniciativas de conservação desde há vários anos, como a criação em cativeiro e o repovoamento da ribeira de Odelouca.

A ação de repovoamento agora anunciada, que se realizou no início de julho, decorreu no âmbito do Projeto Falanges – uma parceria da Águas do Algarve, do aquário Zoomarine e da Quercus, que pretende reforçar as populações de espécies de peixes originárias das ribeiras do Algarve que se encontrem em perigo de extinção.

No âmbito deste projeto, têm sido realizados programas de reprodução de três espécies das ribeiras do Algarve: além do escalo-do-Arade, a boga-do-Sudoeste (Iberochondrostoma almacai), e o barbo-do-Sul (Luciobarbus sclateri).

Assim, em 2025 nasceram no Zoomarine cerca de três dezenas de alevins de escalo-do-Arade, dos quais vinte foram agora libertados na ribeira de Odelouca para reforçar os números desta espécie no seu habitat natural, adiantam as três entidades envolvidas neste projeto, em comunicado. 

“Com esta parceria queremos dar o nosso contributo para a valorização e preservação de ecossistemas ribeirinhos do Algarve, e nesta primeira fase, temos como local de intervenção prioritária o Sítio de Importância Comunitária “Arade-Odelouca”, referiu Marisa Viriato, coordenadora do Departamento de Origens de Água na Águas do Algarve, citada no comunicado. “Para além do programa de reforço destas populações estamos fortemente empenhados num conjunto de outras atividades, com ações de monitorização de qualidade da água da ribeira, monitorização ecológica e de ictiofauna e um programa de sensibilização ambiental, centrado na importância dos serviços prestados pelos ecossistemas fluviais, no seu papel no ciclo urbano da água, e ainda na necessidade de preservar a diversidade biológica da região do Algarve”, acrescentou.

Já João Neves, diretor de Ciência e Conservação do Zoomarine, lembrou que “os períodos de escassez de água no Algarve continuam cada vez mais frequentes e colocam em risco a existência futura desta espécie que só existe nesta região”, fazendo com que sejam muito importantes projetos como este.

“Os efeitos combinados da ação humana e das alterações climáticas, como períodos de seca cada vez mais prolongados, são devastadores para as espécies que habitam os nossos rios e o escalo-do-Arade é uma delas”, notou por sua vez Carlos Silva, coordenador de Projetos de Conservação de Ecossistemas Ribeirinhos, da Quercus.

Reduzir a captação de água no Verão

O escalo-do-Arade é uma espécie presente na bacia hidrográfica do rio Arade, onde permanece o núcleo populacional de maior dimensão, podendo ser também localizada noutras bacias do Algarve, como as ribeiras do Alvor, de Aljezur, da Quarteira e de Seixe. Segundo o Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas, que em 2023 reviu os estatutos de ameaça desta e de outras espécies de peixes de água doce, a principal pressão de que sofre este peixe “é a captação de água, em particular durante o período estival, o que contribui para a redução do caudal e do habitat disponível. Esta é uma situação “particularmente grave nos cursos de água intermitente” onde habitam os escalos-do-Arade.

Outros fatores de pressão referidos pelos autores deste livro é a existência de barreiras nos cursos de água, que impedem o contacto entre grupos diferentes da mesma espécie, e também a degradação da qualidade da água devido a poluentes não tratados, como fertilizantes e pesticidas. Preocupantes são igualmente espécies exóticas como a perca-sol e o chanchito, além dos incêndios florestais e das alterações climáticas.

Além dos programas de reprodução em cativeiro e repovoamento, aconselham os investigadores, é igualmente importante aumentar o conhecimento sobre esta espécie e realizar outras medidas de conservação. Exemplos: “reduzir as captações de água, sobretudo em pegos durante a época estival, melhorar a qualidade da água e a conetividade fluvial, e recuperar a zona ripícola e galerias ribeirinhas (vegetação junto aos rios e ribeiras).”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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