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Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

Ameaçado: Lobo-ibérico vai ter novo programa nacional de conservação para os próximos 10 anos

31.01.2025

Um despacho do Ministério do Ambiente de 30 de Janeiro deu ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) três meses para apresentar um novo programa de medidas para conservar o lobo-ibérico, uma vez que o Plano de Ação para a Conservação do Lobo em Portugal “não teve o sucesso esperado”. Hoje restam quatro grandes núcleos populacionais desta espécie no nosso país.

“A situação populacional do lobo-ibérico em Portugal tem vindo a evoluir de forma desfavorável, pelo que importa rever e atualizar as estratégias que visam a sua conservação”, segundo o Despacho n.º 1392/2025, publicado a 30 de Janeiro e assinado pela ministra do Ambiente e da Energia Maria da Graça Carvalho.

Na verdade, os resultados do Censo do Lobo-Ibérico 2019/2021, divulgados em dezembro de 2024, mostram uma tendência de contração das áreas geográficas de distribuição da espécie que, no início do século xx, estava disseminada de norte a sul do país.

Hoje existem apenas quatro grandes núcleos populacionais de lobo: Peneda/Gerês, Alvão/Padrela, Bragança e Sul do Douro. Foram detetadas 58 alcateias (56 confirmadas, 2 prováveis). No censo anterior, realizado em 2002/2003, tinham sido detetadas 63 alcateias (51 confirmadas, 12 prováveis).

O número de alcateias detetadas sofreu uma ligeira redução, mas há tendências diferentes nos quatro núcleos populacionais. O núcleo da Peneda/Gerês registou um aumento significativo do número de alcateias, o que, em termos globais, compensou a diminuição verificada nos restantes núcleos. A diminuição do número de alcateias foi sobretudo evidente na área do núcleo de Alvão/Padrela, sendo também preocupante a redução registada na zona do Planalto Mirandês e a sul do rio Douro (onde apenas existirão 5 a 6 alcateias).

Actualmente, a população portuguesa representa 15% da população ibérica de lobo. No censo nacional, 17 das alcateias detetadas (29 %) têm territórios transfronteiriços, partilhados entre Portugal e Espanha.

Estima-se que a população de lobos em Portugal ronde os 300 animais, o que corresponde ao valor médio da estimativa de 190 a 390 lobos.

“A diminuição verificada da área de presença e do número de alcateias detetadas, bem como a instabilidade apresentada por estas ao longo dos últimos anos, poderá estar relacionada com a degradação e fragmentação do habitat decorrentes de alterações da paisagem, mas também de outros fatores. Há ainda um nível relevante de mortalidade por causas humanas face a conflitos com atividades socioeconómicas”, acrescenta o texto do despacho.

“Apesar de Portugal desenvolver esforços muito relevantes como o mecanismo de indemnização de prejuízos do lobo, não está a conseguir os resultados necessários para alcançar o estado de conservação favorável do lobo, compromisso assumido no âmbito da Convenção de Berna e da Diretiva Habitats”, sublinha o despacho.

O Plano de Ação para a Conservação do Lobo em Portugal, aprovado a 8 de Novembro de 2017, “não teve o sucesso esperado, pois visava alcançar o estado de conservação favorável”.

“Passados 7 anos sobre a sua aprovação, e tendo em conta os resultados agora disponibilizados pelo Censo do Lobo, importa proceder à avaliação e revisão deste plano com vista à obtenção de melhores resultados. É preciso inverter a dinâmica populacional desfavorável e assegurar que há maior eficácia na operacionalização de medidas e projetos, o que também implica uma maior afetação de recursos, designadamente financeiros.”

O Ministério do Ambiente e Energia defende “um novo ciclo de medidas dirigidas à proteção e restauro ecológico da população de lobo-ibérico em Portugal, no horizonte temporal de 10 anos, devendo ser previsto financiamento para iniciativas e projetos neste período, no âmbito de um programa a desenvolver”.

Para isso, o ICNF deve apresentar, no prazo de três meses, uma proposta de Programa Alcateia 2025-2035 para a Conservação da população de Lobo-Ibérico em Portugal. “Este deve prever medidas adicionais e prioridades de investimento com vista a alcançar um estado de conservação favorável” desta espécie.

A proposta deste programa será sujeita a consulta pública, por um período de 30 dias. Depois será aprovado por Resolução de Conselho de Ministro e incluirá uma previsão de financiamento plurianual para a sua implementação efetiva.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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