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lobo ibérico
Foto: Joana Bourgard

Restauro de bosques avança em Corno do Bico para ajudar a conservar lobo-ibérico

20.11.2024

De 8 a 11 de Novembro decorreram na Paisagem Protegida do Corno do Bico, Paredes de Coura, trabalhos de gestão florestal com tração animal para restauro de uma mancha de carvalhal e bosques ripícolas. A iniciativa, no âmbito do projecto LIFE WILD WOLF, quer aumentar as presas naturais do lobo-ibérico.

O objetivo é “recuperar o bosque autóctone para aumentar as populações de presas naturais do lobo, como o corço, reduzindo assim o risco de ataques ao gado”, explicou a equipa do projecto em comunicado enviado à Wilder.

A ideia é erradicar a vegetação exótica e vegetação com elevado risco de incêndio. Para tal são usadas técnicas mais amigas do ambiente, como a tração animal. Esta “permite uma maior proteção do solo, da regeneração de árvores e de arbustos autóctones do que o uso de maquinaria pesada”, sublinharam os responsáveis.

Paisagem Protegida de Corno do Bico. Foto: Pedro Carvalho/WikiCommons

Numa primeira fase foi cortada uma densa mancha de ciprestes (Cupressus sempervirens), espécie com reduzido valor ecológico e elevado risco de incêndio, na parcela de 20 hectares no Baldio de Bico em cogestão com o ICNF.

O transporte dos troncos de madeira foi assegurado por três binómios homem-cavalo, constituídos por dois cavalos de tiro e uma mula, treinados para este tipo de operação.

Estão previstas para o local outras medidas de restauro, como a a erradicação de árvores exóticas, a promoção da regeneração natural, a plantação de árvores e arbustos autóctones e a reintrodução de espécies arbóreas extintas no local, como o teixo (Taxus baccata). “Esta iniciativa irá assegurar uma melhoria do estado de conservação dos habitats florestais autóctones, permitindo aumentar as condições de refúgio e alimentação para as presas naturais do lobo, e demonstrando boas práticas de gestão florestal que possam vir a ser aplicadas em outras áreas”.

“A iniciativa permitirá melhorar as condições de refúgio e alimentação para as presas naturais do lobo e demonstrar boas práticas de gestão florestal, replicáveis”, acrescentou.

Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

Esta iniciativa realizada no âmbito do projeto europeu LIFE WILD WOLF, do qual são parceiros nacionais o BIOPOLIS/CIBIO, Município de Paredes de Coura e GNR, contou com a colaboração do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), do Baldio de Bico, representado pela UF de Bico e Cristelo, e de vários parceiros do Laboratório Rural em Paredes de Coura, nomeadamente a APTRAN (Associação Portuguesa de Tração Animal) e a Universidade de Vigo. 

O projeto LIFE WILD WOLF , que tem uma duração de quatro anos e meio e 18 parceiros, está a decorrer desde janeiro de 2023 em Portugal, Croácia, República Checa, Alemanha, Grécia, Itália, Eslovénia e Suécia. O principal objectivo é reduzir as situações problemáticas que podem surgir em zonas de lobo e ajudar a mitigar conflitos entre humanos e lobos.

Em Portugal, o projeto desenvolve-se na região noroeste, mais concretamente nos distritos de Viana do Castelo e Braga, concelho de Montalegre.

Por exemplo, em Portugal está a ser feita a recuperação de habitats para melhorar a disponibilidade de ungulados selvagens. A meta é aumentar a abundância de presas, especialmente de corço, em pelo menos 20%. Os esforços de restauro de habitats focam-se em seis tipos de habitats protegidos a nível europeu, zonas de floresta autóctone, e em áreas piloto com 50 hectares mas, com o envolvimento de mais parceiros, a equipa espera conseguir intervir em 400 hectares.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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