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Afloramento no Buçaco onde foi descoberto o fóssil. Foto: D.R.

Descoberto fóssil raro de planta primitiva extinta na região do Bussaco

28.08.2024

Investigadores descobriram um fóssil de uma planta primitiva que existiu na região do Bussaco há cerca de 300 milhões de anos. A Bussacoconus zeliapereirae é um novo género e nova espécie e a sua descrição foi recentemente publicada na revista científica Historical Biology.

Este estudo, liderado por Pedro Correia – investigador do Centro de Geociências do Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra – e realizado em colaboração com Artur Sá, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), permite saber como estas plantas primitivas evoluíram e se adaptaram em ambientes tropicais em mudança durante o final de uma glaciação, no fim do Período Carbonífero, há 300 milhões de anos. 

Bussacoconus zeliapereirae. Foto: D.R.

“As Sphenophyllales são uma ordem extinta de plantas terrestres articuladas e um grupo irmão das atuais cavalinhas da ordem Equisetales“, explica a Universidade de Coimbra em comunicado divulgado hoje. “Estas plantas primitivas eram relativamente pequenas (inferiores a um metro de altura) e produtoras de esporos que existiram durante o Devónico até ao Triássico. A classificação das esfenofilídeas baseia-se principalmente nos seus órgãos vegetativos e reprodutivos (caules, folhas e estróbilos).” 

Esta “é uma descoberta espetacular porque este tipo de frutificações de Sphenophyllales são raras no registo fóssil, o qual é muito fragmentado e pouco se conhece sobre a sua verdadeira diversidade taxonómica”, comentou Pedro Correia, especialista em paleobotânica. 

“Os seus esporangióforos secundários e esporângios estão notavelmente bem preservados na matriz rochosa em diferentes ângulos, o que nos permitiu descrever um conjunto de caracteres diagnósticos essenciais para uma comparação próxima com outros estróbilos do mesmo grupo”, acrescentou o investigador.

Detalhes da morfologia e anatomia das estruturas reprodutoras de Bussacoconus zeliapereirae. Imagens: D.R.

As floras do Carbonífero do Bussaco viveram em condições ambientais e climáticas confinadas a uma região intramontanhosa, na qual sistemas fluviais funcionaram como mecanismos de transporte de muitos restos vegetais e de sedimentos erodidos de rochas circundantes. A combinação de um ambiente intramontanhoso e clima restritivos favoreceu um endemismo local, razão pela qual os cientistas têm descoberto fósseis de várias novas espécies de flora e fauna com características endémicas neste tipo de ambientes.

“Estas novas descobertas científicas revelam o quanto ainda há para conhecer acerca das dinâmicas da evolução da biodiversidade no Carbonífero terminal, período desafiante da história da vida na Terra. O afloramento onde estes fósseis foram recolhidos constitui um novo Sítio de Interesse Geológico em Portugal, sendo que a relevância dos achados paleontológicos recentes lhe confere um valor científico internacional”, considerou Artur Sá, coautor do artigo.

Fóssil da nova espécie Bussacoconus zeliapereirae. Imagens: D.R.

A nova espécie é dedicada a Zélia Pereira, especialista em Palinologia no Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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