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Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Centro de reprodução de quebra-ossos na Andaluzia fecha temporada com 11 crias

08.07.2024

O Centro de Reprodução em cativeiro do quebra-ossos (Gypaetus barbatus) em Guadalentín, em pleno Parque Natural Sierras de Cazorla, Segura y las Villas (Andaluzia), conseguiu 11 crias nesta temporada de reprodução.

Durante a temporada reprodutora 2023-2024, os casais de quebra-ossos puseram 12 ovos, dos quais sobreviveram 11 crias. “O número de crias que eclodiram nesta temporada é o maior que registámos em Guadalentín até agora”, diz, em comunicado, a Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF).

Todas estas crias têm pela frente uma missão especial: ajudar a recuperar a espécie na natureza. Resta saber se serão libertadas para ajudar a restaurar as populações selvagens desta espécie na Europa ou se ficarão em cativeiro para produzirem a próxima geração de aves que serão libertadas.

A temporada reprodutora começou no final de Setembro, quando os casais começam a formar-se e a construir os ninhos. Normalmente, os ovos aparecem três meses depois dos ninhos construídos e entre 50 a 90 dias depois das cópulas.  

Em média, os quebra-ossos põem um ou dois ovos por temporada. Na natureza, normalmente apenas sobrevive uma cria mas em cativeiro, as equipas separam a segunda cria da primeira num esforço para promover a sua sobrevivência e aumentar o número de crias em cativeiro.

O Centro de Guadalentín especializou-se em adopções duplas ou até triplas, um método desenvolvido para permitir aos quebra-ossos cuidarem, com sucesso, de mais de uma cria ao mesmo tempo.

Este ano, o centro teve em mãos um total de 12 ovos, postos por seis casais: Lázaro & Nava, Josef & Keno, Borosa & Toba, Elías & Viola, Andalucía & Salvia e Montero & Nona.  Destes 12 ovos, 11 crias sobreviveram. Uma morreu durante a fase de adopção.

O primeiro a nascer foi o BG1199 “Julio César” que, afinal, se percebeu mais tarde ser uma “Julia”. A cria de Lázaro e Nava nasceu a 2 de Fevereiro de 2024 com 164,1 gramas. “Infelizmente, Julia nasceu totalmente cega. Por causa do seu problema de visão, a adopção não foi possível e a única forma de a ave sobreviver foi ser alimentada à mão e receber os cuidados da equipa técnica de Guadalentín”, explicou a VCF. Por tudo isto, Julia não poderá sobreviver por si própria na natureza. Ainda assim terá um importante papel para sensibilizar as pessoas para a causa da sua espécie.

O Centro de Reprodução de Guadalentín, inaugurado em 1996, é gerido pela Vulture Conservation Foundation e está instalado a quase 1.300 metros de altitude, no Parque Natural das serras de Cazorla, Segura e Las Villas.

É um dos centros europeus que está a tentar trazer de volta esta espécie de abutre Em Perigo de extinção ao Velho Continente. Está no centro de um projecto de conservação que quer estabelecer uma população autónoma e estável de quebra-ossos na Andaluzia, de onde se extinguiu há cerca de 50 anos devido aos envenenamentos e à perseguição humana directa. 

A maioria das crias lá nascidas destina-se à liberdade, para reforçar as populações naturais.

O mais ameaçado da Europa

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Desde 2008, e pela primeira vez em 100 anos, aves libertadas no âmbito da reintrodução da espécie na Andaluzia têm sido observadas nos céus portugueses, fazendo curtas incursões no nosso país.

Em Março de 2022, Portugal e Espanha deram um novo passo para o regresso do quebra-ossos. Foi apresentado em Navarredonda de Gredos (em Castela-Leão) o projecto LIFE Corredores Ibéricos para o Quebra-ossos para ajudar a espécie a regressar ao Sistema Central, através de um corredor ecológico que vai de Portugal através da Península Ibérica de Este a Oeste.

Portugal irá, então, “proceder ao estudo das condições ecológicas existentes em algumas zonas do Norte do país no sentido de avaliar as condições de uma futura recolonização natural ou artificialmente induzida, com o apoio técnico dos parceiros espanhóis envolvidos no projecto”, adiantou, então, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) à Wilder.

O objectivo, acrescentou, é avaliar “o potencial para a ocorrência regular da espécie e eventual nidificação futura”.


Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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