Uma equipa internacional de investigadores descobriu os primeiros fósseis de musgos em Portugal, mais concretamente na jazida fossilífera de Catefica, na região de Torres Vedras. Os resultados deste trabalho foram publicados na revista Fossil Imprint.
Os fósseis têm cerca de 110 milhões de anos e pertencem a sete novas espécies e seis géneros atribuíveis a quatro ordens atuais: Sphagnales, Polytrichales, Diphysciales e Dicranales, demonstrando a sua existência, pelo menos, desde o Cretácico.
Foram descobertos em rochas sedimentares entre Catefica e Mugideira, a cerca de quatro quilómetros a Sul de Torres Vedras. Hoje, os espécimes descritos neste artigo científico estão guardados nas colecções paleobotânicas do Museu sueco de História Natural em Estocolmo.
“A fossilização de musgos é um processo extremamente raro”, explicou, em comunicado, Mário Miguel Mendes, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) que participou na investigação. “Ao que se sabe, em Portugal, nunca haviam sido reconhecidos musgos fósseis até ao momento. Estes são os primeiros.”
Ao contrário do que acontece com as plantas vasculares (mais evoluídas), “os musgos não apresentam sistema condutor diferenciado, pelo que, não possuem verdadeiras raízes, caules e folhas, mas sim rizoides, cauloides e filídeos. O registo fóssil dos briófitos é parco e fragmentado, pois a sua fossilização só se realiza em condições muito especiais devido, fundamentalmente, à fragilidade dos seus tecidos”, descreve Mário Miguel Mendes.
Graças à combinação de técnicas de microscopia eletrónica de varrimento e de microtomografia de raios-x por radiação de sincrotrão, os investigadores conseguiram descrever detalhadamente sete novas espécies e seis géneros atribuíveis, de forma inequívoca, a quatro ordens atuais: Sphagnales, Polytrichales, Diphysciales e Dicranales, demonstrando a sua existência, pelo menos, desde o Cretácico.
“Os musgos pertencem ao grupo dos briófitos e embora, muitas vezes, passem despercebidas, estas pequenas plantas desempenham um papel crucial nos ecossistemas, contribuindo para a estabilidade e sustentabilidade dos habitats”, comentou Mário Miguel Mendes, investigador que, por exemplo, descobriu em 2022 uma nova espécie de conífera do Cretácico em Leiria, a Pseudofrenelopsis zlatkoi.
O estudo – que envolveu investigadores de várias instituições internacionais, do Swedish Museum of Natural History de Estocolmo (Suécia), da Universidade de Aarhus (Dinamarca), da Universidade de Yale (Estados Unidos da América), do National Museum Prague (República Checa) e, da Universidade de Münster (Alemanha) – contribui para a compreensão da evolução das plantas ao longo da história.
“Este avanço paleontológico representa um marco significativo no entendimento da flora do Cretácico português e das transformações que presidiram ao aparecimento e evolução das plantas com flor e que moldaram o nosso planeta”, segundo um comunicado do MARE.
Hoje estima-se que existam cerca de 500 espécies de musgos em Portugal.