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Aumento do pastoreio agrava degradação das zonas áridas, diz estudo em 25 países

05.12.2022

Montado do Ribatejo e do Alentejo estão entre as zonas analisadas por este estudo em que 100 investigadores aplicaram o mesmo método de análise em 25 países de seis continentes.

O estudo, publicado num artigo da revista Science, olhou para as zonas áridas que, actualmente, ocupam mais de 40% do planeta. É nas suas pastagens que está mais de metade de todo o gado. O pastoreio é fonte de subsistência para milhões de pessoas em todo o mundo mas, segundo os investigadores, “em muitos locais é feito à custa da degradação dos ecossistemas”. Hoje, o pastoreio representa o uso do solo mais extenso em todo o mundo.

Os mais de 100 investigadores quiseram perceber qual o impacto do pastoreio nas regiões áridas (semiáridas e sub-húmidas secas) do planeta. Pela primeira vez foi aplicado exatamente o mesmo método de análise em 98 locais de 25 países em seis continentes, incluindo em Portugal.

Sob coordenação de Fernando Maestre, da Universidade de Alicante (Espanha), a equipa caracterizou os ecossistemas destas regiões em termos de clima, tipo de solo e biodiversidade e os serviços vitais que desempenham, como a manutenção da fertilidade do solo, a capacidade de reter carbono e a regulação do ciclo hidrológico.

Os resultados revelaram que “o aumento da pressão de pastoreio reduziu a maioria dos serviços analisados em áreas mais quentes e pobres em espécies”, explicou, em comunicado, Alice Nunes, coordenadora do grupo de investigação em Ecologia das Alterações Ambientais do cE3c da Ciências ULisboa (Ciências ULisboa).

Esta redução dos serviços pelo sobrepastoreio é reflexo da sua degradação, acelerada “por um clima em mudança e cada vez mais árido”, acrescentou a investigadora, e pela perda de biodiversidade.

Segundo Melanie Köbel, investigadora a realizar doutoramento no mesmo grupo de investigação, o estudo reforça “a importância de conservar e restaurar as comunidades vegetais para prevenir a degradação do solo, assegurar a prestação de serviços de ecossistema essenciais para os seres humanos e mitigar as alterações climáticas nas zonas áridas”.

Ainda assim, o estudo encontrou “efeitos positivos do pastoreio em áreas mais frias e ricas em espécies”.

Os autores notam que esta divergência reforça a necessidade de adaptar a pressão e a gestão do pastoreio ao contexto local.

As investigadoras Alice NunesMelanie Köbel integraram a equipa e adicionaram áreas de montado no Ribatejo e no Alentejo ao estudo, por se tratar de um ecossistema de reconhecida importância social, económica e ambiental, sujeito ao pastoreio e vulnerável às alterações climáticas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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