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ONGA exigem combate ao “avanço inexorável” de árvores exóticas na Peneda-Gerês

23.02.2022
Parque Nacional da Peneda-Gerês. Foto: Libânia Pereira/Wiki Commons

Mais de 30 ONGA e mais de 50 personalidades enviaram uma Carta Aberta ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que faça cumprir a lei e combata o “avanço inexorável” das árvores exóticas no único Parque Nacional do país, a Peneda-Gerês.

A carta, com data de 21 de Fevereiro e enviada ao ICNF e à Comissão de Cogestão do Parque Nacional da Peneda-Gerês, revela a preocupação de organizações como a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), da Quercus, da ZERO e da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) face ao futuro desta área protegida, que se estende por 69.596 hectares nos concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre. 

Em causa está o avanço de espécies como a mimosa (Acacia dealbata) e a háquea-picante (Hakea sericea). “Estas espécies constituem atualmente uma grave ameaça à biodiversidade, plantas e animais autóctones, serviços dos ecossistemas, saúde humana e danos muito expressivos à economia”, escrevem os signatários da Carta Aberta.

Na verdade, o Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, aprovado em 2011, já estabelece a necessidade de intervenção nas manchas de espécies invasoras, com destaque para Acacia dealbata e Hakea sericea, identificando área específica para seu controlo e erradicação a ser objeto de pormenorização em Programa Operacional de Gestão, até à data inexistente.

Além disso, acrescentam na Carta Aberta, esse Plano de Ordenamento “estabelece também a área de intervenção específica para a Mata Nacional do Gerês com objetivos, entre outros, de conversão das áreas ocupadas por espécies não indígenas em carvalhais e de elaboração e certificação de respetivo Plano de Gestão Florestal, o qual deverá conter programa pormenorizado de controlo e combate às espécies invasoras, até à data também inexistente”.

Os signatários da Carta Aberta lamentam que apenas se cumpram “medidas aparentemente avulsas que, sendo bem-intencionadas, não apenas não cumprem os objetivos de controlo e erradicação a que se propõem, como inadvertidamente, tantas vezes contribuem para o avolumar do problema”.

Por isso, os signatários da Carta exigem “ações concretas e planeadas de monitorização, prevenção e combate de espécies exóticas e invasoras lenhosas no PNPG (Parque Nacional da Peneda-Gerês)”.

Pedem ainda um Programa Operacional de Gestão para a Área de intervenção específica de Manchas de Espécies Invasoras Lenhosas e um Plano de Gestão Florestal para a Mata Nacional do Gerês.

Outra das exigências é a “revisão do Plano de Ordenamento, com validade estipulada de 10 anos, a reconduzir em Programa Especial de Ordenamento do Território com respetivos planos de gestão de Zona Especial de Conservação e de controlo de propagação de espécies exóticas”.

A Peneda-Gerês, criada há mais de 50 anos, “é hoje, mais do que nunca, em tempos de alterações climáticas, uma relíquia de biodiversidade que urge valorizar através da preservação e recuperação de habitats únicos”, salientam.

A ameaça das exóticas na Peneda-Gerês não é tema novo. Já em Março de 2017, a Quercus lançava o alerta de que a Peneda-Gerês estava a perder a guerra contra as acácias. Na altura, estimou a organização que a mimosa já ocupava mil hectares da área protegida.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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