WWF pede recuperação de florestas e zonas húmidas da UE, capazes de sequestrar milhões de toneladas de CO2 por ano

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A organização WWF pede à Comissão Europeia, que prepara para Março uma Lei do Restauro da Natureza, que seja ambiciosa até porque os cerca de 47 milhões de hectares de florestas e zonas húmidas hoje degradados, se recuperados, podem retirar da atmosfera, todos os anos, até 300 milhões de toneladas de CO2.

Já se sabe que a natureza é uma das principais soluções para combater a crise climática que vivemos.

Agora, um novo estudo revê o potencial de sequestro e armazenamento de carbono dos tipos de habitat para os quais a União Europeia (UE) tem uma responsabilidade particular (listados no Anexo 1 da Directiva Habitats) e identifica que habitats têm maior potencial para sequestrar e armazenar carbono e para conservar a biodiversidade. Neste caso, as florestas (nomeadamente as florestas de faias e a taiga) e as zonas húmidas, nomeadamente as turfeiras, os estuários e as lagoas costeiras.

Parque Nacional Kemeri, Letónia. Foto: Wild Wonders of Europe / Diego Lopez / WWF

O restauro, a larga escala, de habitats degradados em toda a União Europeia (UE), principalmente as florestas e zonas húmidas, pode retirar da atmosfera até cerca de 300 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano. Isto é o mesmo que Espanha emite por ano a nível de gases com efeito de estufa.

Nos casos em que os habitats degradados estão hoje a emitir carbono (como as turfeiras drenadas), esse número poderia ser muito mais elevado, enquanto que nos habitats que estão a sequestrar carbono (como as florestas, ainda que degradadas) poderia ser mais baixo.

Este valor é uma das conclusões do novo estudo, encomendado pela WWF e conduzido pelo Institute for European Environmental Policy (IEEP), apresentado a 7 de Fevereiro.

A WWF defende que a nova legislação europeia deve adoptar a meta de restaurar até 2030, pelo menos, 15% da área terrestre e marinha da UE, bem como 15% dos rios. Isto significa restaurar 650 mil quilómetros quadrados de terras, um milhão de quilómetros quadrados dos oceanos e 178 mil quilómetros de rios.

O objectivo de restaurar a natureza a larga escala é conseguir atacar duas crises ao mesmo tempo durante esta década: a crise do clima e a crise da biodiversidade.

Mas, alerta a WWF, a nova lei europeia tem de ser ambiciosa, urgente e vinculativa.

Para Ângela Morgado, directora executiva da Associação Natureza Portugal (ANP)-WWF, “este estudo vem apenas comprovar que não conseguimos mitigar os efeitos das alterações climáticas nem alcançar a neutralidade carbónica sem florestas, rios e ambientes marinhos plenos e restaurados”.

“Aumentar os sumidouros naturais de carbono através do restauro da natureza é fundamental e a próxima lei do restauro pode ser decisiva se apresentar uma ação imediata e ambiciosa, com metas de restauro para os diferentes ecossistemas”, acrescentou a responsável em comunicado.

Vários são os países que já estão a fazer trabalhos de restauro. A ANP-WWF deu o exemplo do que se faz em Portugal, como o projeto de restauro de 2.500 hectares em Arganil num terreno baldio, financiado durante 20 anos pela Jerónimo Martins, ou o restauro ecológico de áreas ardidas na Serra do Caldeirão, no âmbito do projeto Plantar Água da ANP|WWF, em parceria com The Coca-Cola Foundation.

No entanto, apesar destes e de outros “exemplos meritórios ao nível do restauro da floresta”, ainda “há muito a fazer”.

Uma das tarefas é conseguir restaurar 450 mil hectares de áreas ardidas até 2030, meta definida no Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais. 

É crucial ainda existirem “as condições necessárias para incentivar o restauro florestal em Portugal, melhorando o quadro fiscal dos proprietários que fizerem gestão ativa do território e que restaurem as suas áreas e criando um esquema de certificação público de serviços dos ecossistemas”.

A nível europeu, também ainda há muito por fazer. Tanto mais que, segundo a WWF, o restauro da natureza a larga escala ainda é a peça que falta no puzzle da acção climática europeia. No entanto, tem de acontecer o mais rapidamente possível, isto porque “alguns habitats demoram décadas a melhorar e a restabelecer o seu ciclo de carbono”.

E tão importante quanto recuperar a natureza já degradada é aumentar a protecção das zonas naturais que não estão degradadas, para preservar o carbono que estão a armazenar. O restauro passivo (através da protecção integral e eliminação de todos os tipos de pressões) é, muitas vezes, a forma mais efectiva para restaurar muitos habitats marinhos e florestas naturais antigas, defende ainda a WWF.

Por exemplo, se intocados (por exemplo, eliminando a pesca de arrasto), os sedimentos marinhos podem armazenar carbono durante milhares de anos. As florestas antigas de crescimento lento, que podem continuar a sequestrar carbono durante séculos mesmo depois de terem atingido a maturidade, armazenam mais carbono por hectare do que outras florestas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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