Mais de 4.400 espécies são afectadas pelo aumento da frequência de incêndios de alta intensidade. Uma equipa de cientistas publicou um artigo com soluções para proteger a biodiversidade numa época de “mega-incêndios”.
O fogo à escala mundial tem vindo a mudar e hoje os incêndios são mais intensos e frequentes. Vivemos num regime muito diferente do fogo “natural” que, há milhões de anos, tem sido uma fonte de biodiversidade.
Tudo está a mudar por causa de três factores: alterações climáticas, mudanças no uso do solo e introdução de espécies invasoras. Estes estão a modificar os regimes de fogo à escala global e os seus impactos na biodiversidade.
Como resultado, esta era de “mega-incêndios” está a afectar mais de 4.400 espécies altamente dependentes dos padrões temporais e espaciais dos seus habitats.
Num estudo publicado a 20 de Novembro na revista Science, uma equipa internacional de investigadores identifica acções e estratégias que podem revolucionar a forma como a sociedade lida com o fogo.
“As mudanças nos regimes de fogo podem levar ao aumento da atividade do fogo que ameaçará espécies não adaptadas a estes impactos mais severos, ou à diminuição da atividade do fogo que reduzirá habitats-chave para muitas espécies”, explicou, em comunicado, Adrián Regos, investigador do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto) que participou no estudo.
Os investigadores examinaram como a mudança nos regimes de fogo à escala global ameaça extinguir algumas espécies e transformar ecossistemas terrestres.
“Pelo menos 15% das 30.000 espécies classificadas como em risco de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) estarão ameaçadas pelas mudanças nos incêndios, sendo fundamental uma gestão ativa do fogo de forma a adaptá-lo a certas espécies ou ecossistemas”, segundo um comunicado do CIBIO-InBIO.
O risco de extinção de espécies associadas à alteração do regime de fogo será maior em savanas (27%), seguido de áreas próximas a pradarias (25%), áreas rochosas (25%), zonas arbustivas (25%) e florestas (19%).
Como soluções, os investigadores defendem o restauro e a promoção de paisagens agropastoris tradicionais. Explicam que estas “criam oportunidades para equilibrar a biodiversidade com outros valores socioeconómicos em muitas regiões do mundo”.
Outras ações propostas incluem a reintrodução de grandes herbívoros que reduziriam a carga de combustível da paisagem ou a aplicação de aceiros verdes baseados em espécies pouco inflamáveis.
“O aumento na frequência e intensidade de grandes incêndios florestais representa um desafio social e ambiental sem precedentes e exigirá considerar os regimes de fogo no planeamento da conservação da biodiversidade, especialmente devido ao seu papel fundamental nos ecossistemas.”