Zahara de los Atunes, perto de Cádiz, usou tratores para pulverizar mais de dois quilómetros de praia e dunas com uma solução à base de água e de lixívia para combater a Covid-19. As críticas não se fizeram esperar.
A desinfecção aconteceu no sábado passado, um dia antes de o Governo espanhol ter autorizado as crianças a sair de casa pela primeira vez desde a quarentena.
Ambientalistas locais denunciam que a iniciativa causou um “dano brutal” ao ecossistema local. María Dolores Iglesias, responsável por um grupo ambientalista da região de Cádiz, visitou a praia de Zahara de los Atunes e presenciou os danos. A lixívia, disse, “matou tudo, não se vê nada, nem mesmo insectos”, citou a BBC online.
A praia e as suas dunas são áreas protegidas para a nidificação de aves como o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus). Iglesias disse ter visto pelo menos um ninho com ovos destruído pelos tratores.
“A lixívia é usada como um desinfectante poderoso. É lógico que seja usada para desinfectar as ruas e o asfalto. Mas aqui os danos foram brutais”, acrescentou.
“Eles devastaram as dunas e quebraram todas as regras. O que fizeram foi uma aberração. E tendo em conta que o vírus vive nas pessoas e não nas praias, é uma loucura.”
Iglesias lembrou que, por causa da quarentena, a vida selvagem estava a prosperar naquela praia. “A praia tem a sua própria forma de se limpar, isto não era necessário. Eles não pensam que isto é um ecossistema vivo, mas tão só um pedaço de terreno”.
A Greenpeace Espanha já lamentou o sucedido. “Fumigar praias no meio da época de reprodução das aves ou do desenvolvimento da rede de invertebrados que é a base das pescas costeiras… não é uma das ideias de (Donald) Trump. Está a acontecer em Zahara de los Atunes”, twittou a organização.
A autarquia local já admitiu que a desinfecção foi um erro. “Admito que foi um erro, mas foi feito com a melhor das intenções”, disse Agustín Conejo, presidente da autarquia ao jornal espanhol El País. Conejo explicou que tomou esta medida de desinfecção para preparar a praia “para a saída das crianças” de casa.
“É uma aberração ambiental”, acusa Daniel Sánchez Román, delegado em Cádiz da Delegación Provincial de Desarrollo Sostenible da Junta da Andaluzia. “Esta é uma zona muito sensível, onde se reproduz, todos os anos, o borrelho-de-coleira-interrompida”, ave incluída no Livro Vermelho das Aves de Espanha.
A Junta da Andaluzia está a considerar multar a autarquia pela sua acção, avança o El País. Agustín Conejo já fez saber que, caso a multa se concretize, vai assumi-la.