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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Em 40 anos desapareceram 88% dos grandes animais de água doce

14.08.2019

Esturjões, crocodilos, tartarugas e golfinhos de rio são apenas alguns dos animais que têm vindo a desaparecer dos rios e lagos do planeta, alerta um estudo publicado na revista Global Change Biology.

Entre 1970 e 2012, a megafauna dos lagos e rios do planeta registou um drástico declínio de 88%, de acordo com o artigo publicado a 8 de Agosto. 

Para chegar a esta conclusão, a equipa de investigadores – coordenados pelo Instituto de Leibniz para a Ecologia de Água doce e Pescas de Interior (IGB, sigla em inglês) – estudou 126 espécies de grandes animais de água-doce, com um peso igual ou superior a 30 quilos.

A situação destas espécies é mais grave na região do Sudeste Asiático e do Sul da China, onde 99% das espécies estão em declínio. Esta percentagem é de 97% na Europa, grande parte da Ásia e Norte de África.

As principais vítimas são os grandes peixes como o esturjão (Acipenser sturio), cuja área de distribuição diminuiu 99%, e os salmões. Para estes, o declínio nos últimos 40 anos é de 94%.

Esturjão-europeu. Foto: Solvin Zankl

A seguir surgem os répteis – como os crocodilos, tartarugas e serpentes aquáticas – com 72%. 

“Os resultados são alarmantes e confirmam o receio dos investigadores que participaram no estudo e que conservam a biodiversidade destes ecossistemas”, comentou em comunicado Sonja Jahnig, uma das autoras do estudo.

Os investigadores avançam explicações para este fenómeno: a sobre-pesca e a sobre-exploração destas espécies, principalmente para consumo de carne, pele e ovos.

Além disso, o declínio dos grandes peixes deve-se também à perda de rios livres e ao facto de os animais não conseguirem chegar às zonas onde se reproduzem porque o acesso está bloqueado por barragens.

Fengzhi He, um dos autores do estudo, explica que “apesar de já ser muito grande a fragmentação dos rios em todo o mundo, está prevista a construção de 3.700 novas grandes barragens, 800 das quais em zonas de grande diversidade de fauna de água doce como a Amazónia, o Congo, o Mékong e o Ganges”.

Actualmente, 34 espécies de água doce estão na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Ainda assim, estão menos estudadas do que a fauna terrestre ou marinha e, por isso, menos protegidas.

Os rios e lagos cobrem apenas 1% da superfície da Terra mas albergam um terço de todas as espécies de vertebrados do mundo, salientam os investigadores.

Ainda assim, há projectos de conservação que estão a fazer a diferença.

As populações de 13 espécies de megafauna, incluindo o esturjão, estão estáveis ou mesmo a aumentar nos Estados Unidos.

Na Ásia, a população do golfinho do Irrawaddy (Orcaella brevirostris) na bacia hidrográfica do Mekong está a aumentar pela primeira vez em 20 anos.

Na Alemanha, o IGB está a trabalhar com parceiros internacionais para reintroduzir em águas europeias duas espécies nativas de esturjão – o esturjão-europeu (Acipenser sturio) e o esturjão-atlântico (Acipenser oxyrinchus).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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