Já são conhecidos os vencedores dos Goldman Envoronmental Prizes 2017, atribuídos todos os anos a activistas que combatem pelo direito das suas comunidades a um Ambiente saudável.
Ao longo de anos, por vezes décadas, estas seis pessoas não baixaram os braços. O seu esforço foi agora reconhecido com o prémio atribuído pela Fundação Goldman Environmental, uma das principais distinções na área do activismo ambiental.
Leia as histórias de Wendy, Rodrigue, Prafulla, Uros, Mark e Rodrigo.
Wendy Bowman, Austrália
Há muitas décadas que a região australiana de Hunter Valley é explorada pelos mineiros, mas só desde meados dos anos 80 é que as minas de carvão a céu aberto começaram a agredir a paisagem. Quando as minas operam, o pó de carvão insinua-se nas janelas, nas portas, nos poços de água, por todo o lado. Uma em cada cinco crianças da região perdeu 20% da capacidade respiratória, concluiu um médico local.
Wendy Bowman, 83 anos, recusou-se a vender a sua propriedade agrícola à Yancoal, em 2010, o que foi determinante para impedir a expansão da mina explorada por este grupo chinês, uma vez que era dona de mais de metade da área pretendida. Foi uma das poucas proprietárias de terrenos a recusar-se a abandonar as suas terras, mesmo perante a oferta de milhões.
Mas a luta ainda não acabou. Wendy está actualmente a trabalhar num plano que proteja a sua quinta de Rosedale dos interesses mineiros mesmo depois de morrer, sonhando com um futuro diferente para o Hunter Valley.
Rodrigue Katembo, República Democrática do Congo
Nas duas últimas décadas, mais de 160 guardas do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, foram mortos no cumprimento do dever, muitas vezes por forças militares envolvidas em conflitos e por caçadores ilegais.
Património Mundial da Unesco, Virunga é o mais antigo parque nacional de África e um dos mais importantes para o ecoturismo na República Democrática do Congo, mas nem por isso é menos ameaçado. Foi aqui, neste local onde vive um quarto da população mundial de gorilas de montanha, que Rodrigue Katembo, 41 anos, arriscou a vida para impedir que a britânica SOCO iniciasse a exploração de petróleo dentro do parque.
Katembo, na altura supervisor da área central do parque, juntou-se a um realizador de documentários para recolher provas da corrupção e das actividades ilegais que a SOCO promovia. Estas provas, muitas recolhidas com câmaras escondidas, ficaram internacionalmente conhecidas no filme Virunga, premiado em Abril de 2014 no Festival Cinematográfico de Tribeca, e foram fundamentais para que a petrolífera abandonasse os seus intentos.
O documentário tornou-se amplamente conhecido através da Netflix.
Em Setembro de 2013, Katembo foi preso e torturado durante 17 dias, regressando imediatamente ao trabalho. É hoje director do Parque Nacional de Upemba, onde continua a lutar activamente pelo ambiente.
!mark Lopez, Estados Unidos da América
Na zona leste de Los Angeles, povoada por autoestradas congestionadas e inúmeras fábricas, vive uma das maiores comunidades latino-americanas dos Estados Unidos. Foi aí que a Exide Technologies, um fabricante americano de baterias, comprou em 2000 uma velha fábrica de reciclagem destes materiais.
A subida de produção levou também ao aumento de gases perigosos, como chumbo, uma neurotoxina, e arsénico. Uma amostra de pó retirada dos telhados de edifícios próximos revelou 52.000 partes de chumbo por milhão, quando 1.000 partes por milhão já é um nível perigoso para a saúde.
mark! Lopez, como faz questão de ser conhecido, tem 31 anos e pertence à terceira geração de uma família de activistas locais. Depois de a Exide ser obrigada a encerrar a fábrica, em 2015, Lopez e a sua equipa da East Yard Communities of Environmental Justice persistiram para encontrar provas da contaminação das centenas de casas naquela área.
Finalmente, em Abril de 2016, o governador da Califórnia aprovou uma das maiores operações de limpeza ambiental do Estado, no valor de 176,6 milhões de dólares. Lopez foi designado como co-presidente da comissão que supervisiona os trabalhos.
Prafulla Samantara, Índia
Os Montes Niyamgiri, no estado de Orissa, no Leste da Índia, abrigam o tigre de Bengala e são uma importante rota de elefantes. São também a região natal da tribo Dongria Kondh, reputados conhecedores das plantas medicinais locais, que se assumem como protectores deste local.
Quando em 2003 se começou a falar numa possível exploração mineira de bauxite na região, numa mina a céu aberto que destruiria 1.660 acres de floresta virgem e poluiria as fontes de água, Prafulla Samantara, 65 anos, percebeu que teria de ajudar os Dongria Kondh. Estes não sabiam falar inglês nem mexer em computadores.
Já na altura conhecido como activista social, Prafulla avançou com um processo no Supremo Tribunal para impedir o início da exploração, que tinha sido concessionada pela companhia estatal OMC ao grupo inglês Vedanta. Quase uma década depois, o tribunal concluiu que seriam as populações locais a decidir. Em Agosto de 2013, os 12 concelhos tribais das terras dos Montes Niyamgiri votaram contra a abertura da mina.
Este activista foi raptado, assaltado e atacado várias vezes.
Uros Macerl, Eslovénia
Desde criança que Uros Macerl, hoje com 48 anos, assistia aos efeitos da poluição industrial na região onde vive, em Trbovlje, na Eslovénia. As emissões de gases poluentes afectavam as pessoas, a vida selvagem e as quintas. Quando caía neve esta ficava negra, devido à poluição pelo carvão; a água que saía da torneira era escura.
Nos últimos anos, a União Europeia começou a dar incentivos para as indústrias trocarem o carvão por outros combustíveis: desperdícios médicos, pneus velhos, vários resíduos industriais. O resultado foi pernicioso.
Entre outras companhias que aproveitaram os incentivos, a francesa Lafarge Cement comprou em 2003 uma velha fábrica centenária de produção de cimento, em Trbovlje, e começou a queimar coque como combustível. Este subproduto da refinação de petróleo é muito sujo e queimado a altíssimas temperaturas.
Cansado pelos altos níveis de poluição, Uros Macerl mobilizou a comunidade local contra a queima de coque e de resíduos industriais pela cimenteira. Dono de uma quinta na região e presidente do grupo ambiental Eko Krog, levou a Lafarge Cements a tribunal e ganhou o caso. Teve ainda de recorrer à União Europeia para o Estado esloveno finalmente ceder e a fábrica parar a actividade, em 2015.
Rodrigo Tot, Guatemala
O Lago Izabal é o maior lago da Guatemala, na área de El Estor, locais de grande importância para o povo indígena Q’eqchi, descendente dos Maias. Quando em 2006 os preços do níquel nos mercados internacionais começaram a subir, o governo acordou a reabertura de uma mina local, por uma empresa multinacional, e a sua expansão para a povoação de Agua Caliente.
Passado pouco tempo, forças de segurança da mina começaram a expulsar indígenas das suas terras, sem qualquer respeito pelas leis internacionais. Rodrigo Tot, 57 anos, presidente de Agua Caliente e membro da comunidade Q’eqchi, não tinha uma educação formal, mas tinha aprendido espanhol ao ouvir outras pessoas. Nos anos 70, tinha decidido recolher provas da propriedade das terras, levando-as ao governo para requerer títulos de propriedade.
Depois de em 2009 descobrir que várias páginas tinham sido arrancadas dos registos oficiais de propriedade, Tot decidiu levar o governo a tribunal, arrecadando uma vitória inesperada passados dois anos. O tribunal ordenou ao governo para substituir as páginas em falta nos registos oficiais e entregar títulos de propriedade ao povo Q’eqchi.
Mas ainda hoje, Rodrigo Tot e o resto da comunidade continuam a lutar para que a justiça se cumpra, uma vez que o governo ainda não cumpriu a decisão do tribunal e a mina continua a sua expansão.
Em 2012, dois dos filhos deste activista foram atingidos a tiro, no que se pensa que terá sido um assalto encenado. Um deles morreu.
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Saiba mais.
Conheça melhor os seis vencedores dos Goldman Environmental Prizes, aqui.
Leia também as histórias de Berta Cáceres e de Isidro, vencedores deste prémio em anos anteriores, ambos recentemente assassinados.