Na última edição do festival Cinclus – Festival de Imagem de Natureza, em 2014, passaram por Vouzela cerca de 300 pessoas. Este ano, o programa inclui exposições, workshops e palestras sobre melros-d’água, lobos-ibéricos, borboletas-azuis e técnicas de fotografia de viagens ou em abrigos. João Cosme, que fotografa desde os 17 anos e é um dos organizadores do evento, falou-nos sobre o festival e o estado de arte da fotografia de natureza.
Wilder: Como surgiu a ideia de fazer um festival de imagem de natureza?
João Cosme: Em 2006 fui, pela primeira vez, a um grande festival do género em Espanha, organizado pela AEFONA – Associação Espanhola de Fotógrafos de Natureza. Depois comecei a pensar que no nosso país também havia essa necessidade. Além disso, é uma forma de juntar a comunidade de fotógrafos.
W: E qual é o grande objectivo do festival?
João Cosme: Queremos promover e divulgar o trabalho dos fotógrafos de natureza e a importância da conservação do mundo natural. E para ajudar tentamos sempre ter novos oradores que assegurem qualidade nas suas apresentações. Até porque este é um festival que vive muito da imagem.
W: De onde surge o nome Cinclus?
João Cosme: Cinclus é o nome científico do melro-d’água (Cinclus cinclus), uma ave dos rios de montanha que tem uma população interessante na zona de Vouzela. Acaba por ser uma marca da região. Mas o nome foi sugerido pelo amigo e também organizador deste evento, Ricardo Guerreiro.
W: Para quem é o festival?
João Cosme: O festival é para o público em geral.
W: Há, ou não, interesse da sociedade em relação a este tipo de fotografia?
João Cosme: Há, sem dúvida. As pessoas ficam espantadas quando sabem o que é necessário fazer para um fotógrafo captar uma imagem. E este festival mostra tudo isso, os métodos, técnicas, os bastidores.
W: Qual o alcance dos fotógrafos portugueses no panorama internacional?
João Cosme: Ainda temos algumas dificuldades, mas penso que o panorama está a melhorar. Hoje, lá fora já se olha para alguns fotógrafos de natureza portugueses de outra forma. Para isso, tem ajudado muito a publicação de trabalhos em revistas internacionais e a participação em alguns projectos internacionais.
W: Quantos fotógrafos profissionais existem em Portugal?
João Cosme: Não tenho bem a certeza, mas não devemos passar de uns cinco profissionais que se dedicam exclusivamente a este tipo de fotografia.
W: Mas a fotografia de natureza pode ser uma paixão para muitos amadores.
João Cosme: Sim, temos bons fotógrafos amadores e acho isso muito bom, pois enriquece a cultura visual. O grande problema, muitas vezes, é a cedência de imagens gratuitamente apenas pelo gosto de ver uma fotografia publicada. Esta atitude acaba por ser grave, porque afecta quem vive desta profissão.
W: O que mais se fotografa em Portugal?
João Cosme: De um modo geral, tenta-se fazer um pouco de tudo. Actualmente temos já pessoas que se dedicam a alguns temas como, por exemplo, anfíbios, aves e paisagens.
W: Para si, quais são os melhores locais para fazer fotografia de natureza no nosso país?
João Cosme: Para mim, o que mais gosto de explorar são os ecossistemas ribeirinhos, mas o Douro Internacional, o Gerês e o Caramulo são dos locais que mais exploro. Mas claro, existem outros pontos soberbos no país. Temos uma grande riqueza natural.
W: O que mais lhe dá prazer enquanto fotógrafo da natureza?
João Cosme: É sempre uma grande satisfação quando, ao fim de meses no campo, conseguimos ter êxito num trabalho com alguma espécie. Neste momento estou a desenvolver um projecto fotográfico sobre o lobo-ibérico em plena natureza e este é, sem dúvida, o trabalho que mais satisfação pessoal está a dar. Ver um animal tão mítico em plena liberdade é algo que não é possível descrever.
[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.
Vá até Vouzela (distrito de Viseu) e assista ao festival.
Local do festival: Cineteatro municipal João Ribeiro (Vouzela)
Fotógrafos participantes:
Francisco Calado: com a exposição “Momentos na Natureza”, no Museu Municipal de Vouzela (patente de 31 de Janeiro a 25 de Fevereiro).
Oriol Alamany
Gonçalo Lemos
Ricardo Guerreiro
Audiovisual Aefona – Associação Espanhola de Fotógrafos de Natureza
Jacinto Policarpo
João Cosme
Jordi Chias
Luís Afonso
João Nunes da Silva
Tiago Magalhães
Carlos Rio
Miguel Claro
Colectivo Audiovisual Fotógrafos de Natureza Portugueses