Ricardo Rocha e Adrià López-Baucells fizeram parte de um dos primeiros estudos a colocar localizadores GPS em morcegos. Conheça melhor estes investigadores.
Ricardo Rocha:
WILDER: O que fazes?
Ricardo Rocha: Trabalho principalmente com ecologia tropical e o meu grupo taxonómico de eleição são os morcegos. Acabo de terminar um postdoc na Universidade de Cambridge e irei agora começar um novo postdoc na Universidade do Porto.
W: Onde e quando começaste?
Ricardo Rocha: Comecei a trabalhar com morcegos na Amazónia em 2011 enquanto bolseiro do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Universidade de Lisboa, num projeto que acabou de evoluir para o meu doutoramento.
W: Como aprendeste a fazer o teu trabalho?
Ricardo Rocha: Principalmente através de colegas e mentores. Para este trabalho aprendi imenso de telemetria com a Irene Conenna, principal autora do estudo e com o Adrià, meu colega de longa data.
W: Quando começaste, o que pensavas que querias fazer?
Ricardo Rocha: Quando comecei a interessar-me por biologia o objetivo era trabalhar com espécies ameaçadas na Madeira. Agora o meu próximo postdoc será com os morcegos do arquipélago. Completa-se assim o ciclo.
W: O que ainda te falta descobrir e fazer?
Ricardo Rocha: Tudo? Só de morcegos existem mais de 1.400 espécies e sobre a grande maioria não sabemos quase nada. Novos desenvolvimentos tecnológicos como os aparelhos GPS que usamos neste estudo permitem agora estudar os animais no meio selvagem com muito maior detalhe. É um tempo excitante para fazer Ciência. No entanto, é também um tempo assustador, na medida em que os animais que tanto estimamos estão a desaparecer a um ritmo alucinante. Espero em particular que à medida que descobrimos mais sobre estes animais e sobre a sua importância haja uma maior mobilização da sociedade para questões relacionadas com a conservação da natureza.
Adrià López-Baucells:
WILDER: O que fazes?
Adrià López-Baucells: Atualmente sou investigador associado no Museu de Ciências Naturais de Granollers, principalmente focado no estudo dos morcegos como controladores de pragas agrícolas, a relação entre morcegos e a nossa sociedade. Também me dedico à monitorização de morcegos usando bioacústica em diferentes habitats ao longo do ano para estudar como as comunidades estão a responder às alterações na paisagem, com objetivo de melhorar a gestão dos ecossistemas.
W: Onde e quando começaste?
Adrià López-Baucells: Comecei a trabalhar com morcegos em 2005 no Museu de História Natural de Granollers (Catalunha). Tenho trabalhado em vários países (Colômbia, Austrália, Brasil, Reino Unido, Espanha, Madagáscar, Quénia), estudando diferentes aspetos da ecologia dos morcegos, sempre focado na sua conservação. Através dos investigadores do Museu aprendi as técnicas mais comuns de amostragem e também trabalhei com radio-telemetria, bioacústica, estudos de dieta, etc.
W: Como aprendeste a fazer o teu trabalho?
Adrià López-Baucells: Estou sempre a aprender! Cada uma das experiências que tenho tido ao longo dos últimos 10 anos tem contribuído para aprender mais de uma coisa ou outra… E espero continuar esta aprendizagem por muito tempo. O bom, como sempre, é ter bons professores e investigadores com quem aprender.
W: Quando começaste, o que pensavas que querias fazer?
Adrià López-Baucells: Na verdade, a minha ideia inicial sempre foi estudar mamíferos pouco conhecidos e a precisar de uma conservação ativa e imediata. Quando conheci os morcegos de perto num curso de ecologia percebi que tinha dado com o grupo taxonómico perfeito. Enorme diversidade, altamente ameaçados, geralmente repudiados pela sociedade e com grandes dificuldades de conservação. Decidi logo que tinha que tentar focar-me neste grupo e dar toda a minha energia para contribuir com esse pequeno grão de areia para a conservação da biodiversidade do planeta.
W: O que ainda te falta descobrir e fazer?
Adrià López-Baucells: Falta tanta coisa que até é difícil responder… Mas se tivesse que especificar uma coisa, acho que falta descobrir o elo que ligue a Ciência e a Sociedade, de forma a ativar mudanças rápidas e poderosas que contribuam para a conservação da diversidade. Como cientista acho que não estamos a conseguir mudanças suficientemente rápidas e temos que trabalhar para quebrar as bolhas da ciência e expandir o conhecimento.
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