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Macho de caça-moscas-de-darwin. Foto: Thomas O'Neil/Wikimedia Commons

Reprodução histórica de ave nas Galápagos enche conservacionistas de esperança

30.05.2025

A temporada de reprodução de 2025 nas Galápagos ficou marcada por um marco histórico para uma ave icónica, o caça-moscas-de-darwin (Pyrocephalus nanus), revelou a Fundação Charles Darwin.

O caça-moscas-de-darwin (Pyrocephalus nanus) registou o número recorde de 39 crias em 2025.

Outrora espalhado pelas zonas altas da ilha de Santa Cruz, no arquipélago das Galápagos, o caça-moscas-de-darwin tem vindo a desaparecer nas últimas décadas. A Fundação Charles Darwin estima que restem apenas entre 30 a 50 indivíduos, numa zona restrita.

As maiores ameaças a esta ave incluem plantas exóticas invasoras como a amora-branca (Rubus niveus) e o cestro (Cestrum auriculatum) – que causaram a degradação do habitat-, a predação por ratos e gatos que foram introduzidos na ilha e o parasitismo pela mosca Philornis downsi, introduzida acidentalmente nas Galápagos.

Para reverter este declínio populacional, desde 2014 a Fundação Charles Darwin e o Parque Nacional das Galápagos juntaram esforços numa estratégia de conservação que se tem centrado na remoção de espécies de plantas invasoras, no restauro do habitat e no tratamento dos ninhos destas aves para combater o parasitismo.

Os resultados em 2025 “foram extraordinários, com um número recorde de 39 crias voadoras, 10 casais reprodutores e 27 tentativas de nidificação”, escreve, em comunicado, aquela Fundação. Em 2024 o projecto de conservação tinha conseguido 15 crias.

A Fundação acredita que as aves beneficiaram de se terem começado a reproduzir mais cedo, devido ao tempo mais quente, com ovos a aparecer ainda em Novembro e as crias a eclodir antes do Natal. Ainda assim, acrescenta, “é claro que os nossos continuados trabalhos de restauro do habitat florestal de Scalesia tem sido crucial para apoiar este sucesso e sustentar o crescimento da população destas aves”.

Os esforços de restauro expandiram-se em 2024 a mais sete hectares, totalizando assim nesta temporada reprodutora 17 hectares limpos de amoras-brancas e de cestros.

“O habitat que está a ser restaurado permitiu às aves procurar alimento de forma mais eficaz, melhorando as taxas de sobrevivência, enquanto a criação de corredores ecológicos ligando esses habitats em recuperação oferece caminhos para as aves se expandirem para novos territórios e encontrar um parceiro.”

“A temporada reprodutora deste ano foi incrível, tendo durado quase seis meses”, comentou, em comunicado, Birgit Fessl, investigadora principal para o programa de conservação das aves terrestres da Fundação Charles Darwin.

“Ver as aves a capturar facilmente insectos no ar, perto do solo numa floresta restaurada, e rapidamente a regressar ao seu ninho para alimentar as crias, sem terem de se afastar demasiado, é uma imagem que nos enche de esperança e de vontade para continuar a restaurar ainda mais área. Cada hectare restaurado aproxima-nos da meta de uma resiliência do ecossistema a longo prazo”, acrescentou.

Actualmente estão registadas nas Ilhas Galápagos um total de 169 espécies de aves selvagens. Destas, 105 são residentes ou migradores regulares.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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