Uma equipa de investigadores actualizou o inventário da diversidade de caranguejos-eremita na Península Ibérica, elevando o número de espécies para as 55.
O novo estudo, publicado na revista Marine Ecology, fez a revisão mais exaustiva até agora sobre os caranguejos-eremita da Península Ibérica e da Macaronésia (Açores, Canárias e Madeira).
A equipa – liderada pelo Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO-CSIC) e onde participaram ainda peritos da Universidade de Málaga e do Instituto de Ciências Marinhas da Andaluzia (ICMAN-CSIC) – documentou 55 espécies diferentes e gerou, pela primeira vez, uma base de dados molecular para 35 dessas espécies.
Os caranguejos-eremita são crustáceos que se caracterizam por utilizar conchas vazias, habitualmente de caracóis, para proteger o seu abdómen.
Ao contrário de outros caranguejos, o seu corpo não está completamente coberto por uma carapaça rígida, o que os obriga a procurar refúgio em estruturas externas que têm de alterar periodicamente à medida que crescem.
Este estudo actualizou a lista de espécies conhecidas destes animais, combinando dados genéticos (informação do ADN) e observações morfológicas (aspecto físico e características externas).
“Este trabalho aumentou significativamente a nossa compreensão da biodiversidade dos caranguejos-eremita”, comentou Bruno Almón, principal autor do estudo e investigador do Centro Oceanográfico de Vigo do IEO.
Na sua opinião, “este tipo de investigações são fundamentais para a conservação, pois se não soubermos que espécies existem, não podemos proteger-las”.
Este trabalho, além de se concentrar na diversidade dos caranguejos-eremita, salienta também a importância de combinar métodos tradicionais, como a observação directa, com ferramentas moleculares modernas, baseadas na análise genética. Graças a isso, os investigadores acreditam que se melhora a precisão com que se identificam as espécies e se abrem novas vias para investigar a evolução dos crustáceos marinhos e o seu papel no equilíbrio ecológico.
À medida que a temperatura do mar aumenta por causa das alterações climáticas, muitas espécies tropicais começam a deslocar-se para Norte. “Se conhecermos bem a fauna local, poderemos reconhecer mais facilmente quando uma ‘nova’ espécie está a chegar a um lugar aonde ainda não vivia”, explicou José A. Cuesta, investigador do ICMAN. “Estes movimentos ajudam os cientistas a prever como vão evoluir os ecossistemas marinhos no futuro.”
Os dados deste estudo fazem parte da tese de doutoramento de Bruno Almón e representam informação que foi obtida durante anos de trabalho, incluindo recolha de amostras em zonas costeiras, campanhas de pesca e colecções históricas em museus.
Mas “ainda falta muito por descobrir”, lembrou Almón. “Existem regiões marinhas pouco exploradas e habitats profundos onde apenas agora se começou a investigar. É muito provável que ali vivam mais espécies desconhecidas para nós.”