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Caranguejo-eremita. Foto: Bruno Almón

Península Ibérica tem 55 espécies de caranguejos-eremita, revelam investigadores

30.05.2025

Uma equipa de investigadores actualizou o inventário da diversidade de caranguejos-eremita na Península Ibérica, elevando o número de espécies para as 55.

O novo estudo, publicado na revista Marine Ecology, fez a revisão mais exaustiva até agora sobre os caranguejos-eremita da Península Ibérica e da Macaronésia (Açores, Canárias e Madeira).

A equipa – liderada pelo Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO-CSIC) e onde participaram ainda peritos da Universidade de Málaga e do Instituto de Ciências Marinhas da Andaluzia (ICMAN-CSIC) – documentou 55 espécies diferentes e gerou, pela primeira vez, uma base de dados molecular para 35 dessas espécies.

Os caranguejos-eremita são crustáceos que se caracterizam por utilizar conchas vazias, habitualmente de caracóis, para proteger o seu abdómen.

Ao contrário de outros caranguejos, o seu corpo não está completamente coberto por uma carapaça rígida, o que os obriga a procurar refúgio em estruturas externas que têm de alterar periodicamente à medida que crescem.

Este estudo actualizou a lista de espécies conhecidas destes animais, combinando dados genéticos (informação do ADN) e observações morfológicas (aspecto físico e características externas).

“Este trabalho aumentou significativamente a nossa compreensão da biodiversidade dos caranguejos-eremita”, comentou Bruno Almón, principal autor do estudo e investigador do Centro Oceanográfico de Vigo do IEO.

Na sua opinião, “este tipo de investigações são fundamentais para a conservação, pois se não soubermos que espécies existem, não podemos proteger-las”.

Este trabalho, além de se concentrar na diversidade dos caranguejos-eremita, salienta também a importância de combinar métodos tradicionais, como a observação directa, com ferramentas moleculares modernas, baseadas na análise genética. Graças a isso, os investigadores acreditam que se melhora a precisão com que se identificam as espécies e se abrem novas vias para investigar a evolução dos crustáceos marinhos e o seu papel no equilíbrio ecológico.

À medida que a temperatura do mar aumenta por causa das alterações climáticas, muitas espécies tropicais começam a deslocar-se para Norte. “Se conhecermos bem a fauna local, poderemos reconhecer mais facilmente quando uma ‘nova’ espécie está a chegar a um lugar aonde ainda não vivia”, explicou José A. Cuesta, investigador do ICMAN. “Estes movimentos ajudam os cientistas a prever como vão evoluir os ecossistemas marinhos no futuro.”

Os dados deste estudo fazem parte da tese de doutoramento de Bruno Almón e representam informação que foi obtida durante anos de trabalho, incluindo recolha de amostras em zonas costeiras, campanhas de pesca e colecções históricas em museus.

Mas “ainda falta muito por descobrir”, lembrou Almón. “Existem regiões marinhas pouco exploradas e habitats profundos onde apenas agora se começou a investigar. É muito provável que ali vivam mais espécies desconhecidas para nós.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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