A equipa de veterinários, tratadores e enfermeiros do CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, em Gouveia (Guarda), recebeu 582 animais (455 vivos) de 87 espécies em 2016, um número recorde para a instituição. Aqui ficam as melhores imagens de um ano a cuidar da natureza.
É entre Abril e Setembro que o CERVAS recebe mais animais selvagens mas as portas estão abertas o ano inteiro. Andorinhões, corujas, melros, cegonhas, raposas e muitos outros animais dão entrada nas instalações no Parque Natural da Serra da Estrela.
“Este ano tivemos o maior número de ingressos até agora”, contou à Wilder Ricardo Brandão, médico veterinário e director clínico deste centro do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), gerido pela associação ALDEIA desde 2009, com o apoio da ANA – Aeroportos de Portugal e de outros parceiros.
Em 2015 deram entrada 553 animais; em 2016 o centro recebeu mais 29, num total de 582 animais (apenas 455 vivos) de 87 espécies. A juntar a estes há que cuidar dos 14 animais irrecuperáveis que vivem no centro.
“Considero que este aumento de ingressos é positivo na medida em que quer dizer que cada vez mais pessoas têm a preocupação e se dão ao trabalho de entregar animais selvagens”, comentou o director clínico. O reverso da medalha? “Os nossos espaços de recuperação não têm aumentado e isso traz dificuldades logísticas e financeiras.”
No ano passado, o CERVAS contou com um total de 36 pessoas, desde um médico veterinário e director clínico, um tratador e uma enfermeira veterinária, aos 25 voluntários e oito estagiários.
Esta equipa esteve mais ocupada com aves, que representaram 86,6% das entradas, mas também com mamíferos (11,9%) e répteis e anfíbios (1,5%). Os animais vieram, principalmente, da Guarda (206), Coimbra (128) e Viseu (90).
O centro recebeu animais de 87 espécies, especialmente andorinhões-pálidos (63), corujas-das-torres (45), mochos-galegos (33), melros (31), coruja-do-mato (30), cegonhas (21), águias-de-asa-redonda (20), raposas (18), pegas-azuis (17) e gralhas-pretas (12).
Os andorinhões-pálidos (Apus pallidus) encabeçam a lista das espécies que entraram no CERVAS, com 63 animais. Segundo Ricardo Brandão, isto não significa necessariamente um aumento da população de andorinhões mas sim que “há uma maior preocupação das pessoas, que reconhecem que há quem os receba e cuide deles”.
Estas aves começam a chegar ao centro em finais de Março, início de Abril, quando entram em Portugal vindos de África. “Recebemos adultos debilitados e desnutridos que, depois de terem feito a migração, encontram aqui condições climatéricas mais desfavoráveis do que esperavam, o que se traduz em menos insectos para se alimentar”, explicou Ricardo Brandão.
Mas a maior parte dos andorinhões-pálidos são crias que caem dos ninhos. “Estes começam a chegar-nos em Junho. Como não se alimentam sozinhos, temos de lhes dar comida à mão, de duas em duas horas, e tentar simular o que os pais fazem.” Estes pequenos comem larvas de escaravelhos, um alimento muito completo.
A estratégia de recuperação destas crias fica completa com a integração das aves em grupos. “A recuperação em grupo é muito mais bem sucedida e, por isso, recomendamos às pessoas que os encontrarem que não os mantenham nas sua casas”, acrescentou. Quando as penas estão formadas e atingem um determinado peso, os jovens andorinhões são libertados numa colónia na parte alta de Gouveia. “É interessante ver que, assim que voam em liberdade, são logo integrados na colónia.”
Depois da queda dos ninhos (causa do ingresso para 148 animais), a segunda causa de entrada no centro é o cativeiro ilegal. Este ano, este motivo levou ao CERVAS 118 animais. “Este número foi inflacionado por uma apreensão em Celorico da Beira, onde foram encontradas em cativeiro ilegal dezenas de animais de espécies autóctones protegidas, como chamarizes, verdilhões, corvos, pintassilgos e até um pisco-de-peito-ruivo”.
Para muitos destes animais, especialmente os de maior porte, um dos maiores desafios é ultrapassar os problemas mentais por terem estado presos. “Temos de estar atentos a determinados sinais de que a ave não está bem.” Por exemplo, é preocupante quando as aves toleram demasiado a presença ou aproximação dos técnicos do centro, quando são demasiado agressivas umas com as outras ou quando vocalizam muito.
“A recuperação mental de uma ave passa por observá-la sem que ela se aperceba e dar-lhe tempo e espaço, integrada com outros animais.”
A terceira causa de ingresso no centro foi o atropelamento (33 animais, como raposas).
Dos 455 animais recebidos vivos, 270 (59,3%) foram devolvidos à natureza. No caso dos andorinhões, 82% foram libertados.
Normalmente, os animais são libertados em Julho e Agosto. De acordo com o CERVAS, as datas têm a ver com o elevado número de ingressos nos meses da Primavera e início do Verão e com a necessidade de libertar os animais dentro do período de ocorrência regular das espécies migratórias, sempre que possível.
As acções de libertação envolveram um total de 5.519 pessoas. “É interessante notar que agora são mais as várias entidades que nos contactam para estarmos presentes em eventos e a libertar animais. São pessoas que querem ter um momento de contacto com a natureza. E nós aproveitamos para divulgar o nosso trabalho e tentar mudar mentalidades”, concluiu Ricardo Brandão.
Este trabalho continua nas escolas. No ano passado, a equipa do CERVAS visitou 34 escolas para falar de animais selvagens e de como os podemos ajudar.
[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.
Se encontrar um animal selvagem ferido, aqui ficam os contactos do SEPNA. O ICNF reúne aqui os contactos da rede com os 14 centros que recebem animais selvagens em Portugal, de Norte a Sul.
Para ajudar o CERVAS, está a decorrer uma campanha de apadrinhamento – Dia dos Namorados. Mochos, corujas, águias e muitos outros animais estão à sua espera.
Leia aqui o relatório com as actividades do centro ao longo de 2016.