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Noite das Criaturas das Trevas. Foto: Pedro Alves

Halloween: Noite das Criaturas das Trevas desafia naturalistas “assustadores” a sair de casa

30.10.2024

É a celebração do Halloween feita a pensar em quem gosta de morcegos, aranhas, traças ou corujas. Traga o seu traje mais assustador e participe em saídas de campo nocturnas guiadas por investigadores que vão procurar estes fantásticos animais em vários pontos do país.

O grande objectivo desta iniciativa é revelar a verdadeira importância e beleza de morcegos, sapos, rãs, salamandras, aranhas, traças, corujas, mochos e ratos ao maior número de pessoas possível.

A Noite das Criaturas das Trevas acontece desde finais de Outubro até Novembro e inclui diversas saídas de campo para observação de espécies que as pessoas relacionam com a Noite das Bruxas.

Este ano há actividades previstas para Braga (Mosteiro de Tibães, 31 de Outubro), Lousada (Parque Doutor Mário Fonseca, 31 de Outubro), Vagos (Lagoa da Mata, 31 de Outubro), Évora (Alto de São Bento, 31 de Outubro), Montemor-o-Novo (Herdade da Adua, 1 de Novembro) e Arraiolos (Aldeia da Serra, 2 de Novembro).

Nesta actividade convidam-se os participantes a aparecerem mascarados, à noite, num espaço natural para fazer observação de “criaturas das trevas” acompanhados de investigadores especialistas de diferentes grupos de fauna (como anfíbios, morcegos, rapinas nocturnas, borboletas nocturnas, e aranhas).

Segundo Jael Palhas, coordenador nacional da iniciativa, poderá haver ainda mais iniciativas, de momento ainda não confirmadas, durante o mês de Novembro.

Esta iniciativa começou há cerca de 10 anos e é organizada por um grupo de especialistas que decidiu “deixar de pregar para os já convertidos”, explicou anteriormente à Wilder Jael Palhas.

“Estes são animais muito mal vistos pela população”, sofrendo por causa de mitos antigos, segundo os quais são perigosos, explicou este ecólogo. “Qualquer receita de bruxa tem olhos de morcego ou patas de salamandra”, brincou. “Morcegos, aranhas e sapos entraram neste imaginário e prestam-se a ideias erradas. As pessoas associam-nos a azar, a bruxaria. Por isso, é preciso fazer a divulgação científica destes grupos, para acabar com o grande contraste entre a importância deles e a forma como a sociedade os vê.”

A Noite das Criaturas das Trevas é uma iniciativa independente que é dinamizada anualmente em vários locais do país por equipas de diferentes associações, centros de investigação e universidades. “Muito do trabalho tem sido voluntário nos últimos anos, graças ao empenho e dedicação de muitos investigadores, naturalistas e estudantes que desejam contribuir para a conservação e divulgação dos grupos de fauna menos queridos pela população”, explicam os organizadores.

“A população cria muitos mitos e ideias erradas em relação a algumas espécies menos conhecidas, especialmente espécies nocturnas ou com hábitos mais secretivos, mas muitas destas espécies, não só são inofensivas para os humanos, como até chegam a ser extraordinariamente úteis pelo seu papel regulador dos ecossitemas e controladores de pragas, por exemplo”, contou Jael Palhas.

Há aranhas e cobras que têm algum risco para os humanos mas essas espécies vivem em outras áreas do planeta. Ainda assim, isso influenciou a nossa cultura. Jael Palhas sublinhou que “em Portugal estes medos são injustificados, uma vez que temos tão poucos animais da nossa fauna que realmente representem riscos directos para os humanos”. São eles duas espécies de víboras, os escorpiões, as escolopendras e duas espécies de aranha. Mas esse “risco é facilmente minimizado pelo uso de calçado adequado ou luvas quando se praticam actividades de risco”.

A verdade é que muitas destas espécies menos conhecidas para nós e que estão associadas a mitos, superstições e medos “são espécies que, quando sabemos um pouco mais sobre a sua biologia, ecologia e importância nos ecossistemas, deixam de nos assustar e passam a fascinar-nos!”

E passa a exemplificar. “Quantas pessoas saberão que uma aranha chega a conseguir estar dois anos sem comer, à espera que caia uma presa  na sua teia,  e que se lhe pouparmos a vida e a teia, ela pode comer dezenas (ou centenas) de animais que são nocivos aos humanos, por serem vectores de doenças ou atacarem a nossa comida ou produções agrícolas. Quantas pessoas sabem que uma salamandra pode viver até aos 60 anos e que durante a noite limpa a horta de pragas, ou que um sapo pode caminhar até 10 km todos os anos para se ir reproduzir ao mesmo charco? Ou que um morcego pode comer metade do seu peso em insectos durante cada noite de caça? ou que uma osga é inofensiva para nós  e consegue caminhar nas paredes e no tecto para caçar animais que nos atacam como moscas e mosquitos? Quantas pessoas têm medo das traças e acham que dão azar ou comem a roupa, quando na realidade, grande parte das espécies de borboletas nocturnas não comem fibra têxteis nem dão azar, mas são sim polinizadores tão importantes como as abelhas?”

A Noite das Criaturas das Trevas quer ajudar a acabar com crenças e mitos que “têm sido responsáveis por afastar a população destes animais e levar a comportamentos de perseguição que têm contribuído para os estados desfavoráveis de conservação em que muitas destas espécies se encontram”, segundo os organizadores do evento.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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